Título: Aliança com governadores é aposta de Lula para ter força no Congresso
Autor: Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/11/2006, Nacional, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aposta cada vez mais na parceria com os governadores eleitos para quebrar as resistências da oposição e garantir maioria no Congresso no início do segundo mandato. Ele intensificou o contato com governadores oposicionistas, usando como isca a possibilidade de renegociação das dívidas estaduais. Recebeu ontem no Palácio do Planalto o governador reeleito da Paraíba, o tucano Cássio Cunha Lima, e o governador eleito do Distrito Federal, José Roberto Arruda (PFL).

Por telefone, Lula também procura manter diálogo com os dois principais governadores do PSDB: José Serra, de São Paulo, e Aécio Neves, de Minas. Busca a simpatia dos interlocutores, dizendo que não poderá concorrer de novo ao Planalto em 2010. 'Minha missão estará cumprida ao final deste mandato', afirmou ontem, segundo relato de Cunha Lima.

O discurso de Lula parece estar seduzindo os governadores. 'Ninguém é insano de não conversar com o presidente da República', disse Cunha Lima, à saída da audiência. 'O presidente afirmou que sua contribuição no segundo mandato será desobstruir a situação dos Estados e municípios.' Sintomaticamente, 17% da receita da Paraíba está comprometida com o pagamento de dívidas.

PILOTO

Já Arruda deixou o gabinete presidencial falando em paz e conciliação. Durante a campanha eleitoral, numa referência irônica a Lula, o pefelista dissera em discurso que não viajaria num avião em que o piloto estivesse bêbado. 'Não lembro disso', comentou ontem. Arruda depende de verbas federais para tocar a administração do Distrito Federal, embora o repasse de parte dos recursos esteja garantido pela Constituição.

O Planalto confirmou que Lula avalia a questão das dívidas estaduais, mas ressalvou que todos os estudos levam em conta o respeito à Lei de Responsabilidade Fiscal. Logo no início do segundo mandato, o presidente terá de se preocupar com votações importantes no Congresso, como a da proposta de prorrogação da vigência da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF).

Ficou acertado ontem que Lula terá um encontro na próxima semana com os governadores eleitos da base aliada. Logo em seguida, o presidente pretende marcar novas reuniões com governadores da oposição. O Planalto contabilizou como vitória as audiências com Cunha Lima e Arruda. 'É muito importante a presença de governadores de oposição', disse o ministro de Relações Institucionais, Tarso Genro. 'Isso demonstra que, independentemente de vozes mais ou menos duras, há um grande espaço para o diálogo político.'

Em paralelo ao contato com os governadores, o presidente quer dar mostras públicas de que está aberto também à negociação até mesmo com parlamentares que lhe fizeram críticas. Na próxima quarta-feira, Lula vai receber o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), que vinha reclamando do fato de Lula conversar preferencialmente com três interlocutores no PMDB: os senadores Renan Calheiros (AL) e José Sarney (AP) e o deputado Jader Barbalho (PA). Tarso relatou que o presidente já disse a Renan e Sarney que não pretendia 'excluir' do diálogo ninguém do partido.

CONSELHO

Os encontros com os governadores servirão para definir a abrangência da aliança que o governo vai montar no Congresso. Até agora, já manifestaram interesse em participar desse 'frentão' PMDB, PCdoB e PSB. O Planalto conversa ainda com PV, PDT, PL e PP. O PTB também quer entrar, mas busca uma fórmula para manter à distância seu presidente, Roberto Jefferson, pivô do escândalo do mensalão.

Além de garantir uma fatia de cargos oficiais para cada uma das legendas que aderirem, o governo pretende reunir os presidentes desses partidos num conselho político que faria sugestões a Lula. 'A representação dos partidos no governo vai ter como referência a sua força política no Congresso', definiu Tarso.