Título: CNBB critica movimento por anistia para Dirceu
Autor: Formenti, Lígia
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2007, Nacional, p. A14

A campanha alinhavada pelo ex-ministro da Casa Civil José Dirceu para concessão de uma anistia política a seu favor foi duramente criticada pelo presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), d. Geraldo Majella Agnelo. ¿Não houve tempo para que o responsável pelo ilícito seja punido ou dê respostas à comunidade, e já falam em anistia¿, disse. ¿Não podemos concordar.¿

Cassado em 2005 durante o escândalo do mensalão, Dirceu deixa claro que não vai poupar esforços para reaver seus direitos cassados. Formou uma equipe para idealizar o movimento para sua reabilitação política e sondar o momento exato pra colocar a campanha na rua, a pleno vapor.

O movimento pela anistia, porém, não parte apenas de José Dirceu.

O PTB também estuda a possibilidade de iniciar um movimento pela reabilitação de Roberto Jefferson, também cassado em 2005 durante as investigações do mensalão.

Mas, ao contrário de Dirceu, Jefferson não assumiu publicamente o interesse por um processo de reabilitação. Limita-se a dizer que a questão está em estudo.

D. Geraldo avaliou ainda haver risco de retrocesso na discussão sobre a reforma política. Para ele, a protelação da reforma seria prejudicial para a sociedade brasileira. ¿É fácil dar atenção para um tema e depois colocá-lo no esquecimento¿, criticou.

Citada durante a campanha presidencial como uma ação indispensável, a reforma política já não integra a lista de prioridades.

O primeiro a externar o ¿rebaixamento¿ do tema foi o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro. Recentemente, ele afirmou que a reforma política não é um tema urgente.

REAÇÃO

Não foi só a CNBB que criticou a campanha pela anistia de Dirceu. A aparição do ex-ministro portando um cartaz com a frase ¿anistia já¿, durante evento do PT em Salvador, causou indignação entre parlamentares da oposição.

No cartaz exibido na capital baiana, um Dirceu jovem aparece na foto. ¿Era o Dirceu de 1968. Aquele, eu anistiaria. O de hoje, não¿, reagiu o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM).

¿Não consideramos que esse cidadão mereça ser contemplado com a anistia¿, prosseguiu ele, para quem o indulto a Dirceu seria ¿um vexame¿ para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Reação semelhante teve o líder do PFL na Câmara, deputado Rodrigo Maia (RJ). ¿Essa anistia (a da foto da época da ditadura) ele já recebeu. A de agora não tem nada a ver com a anistia política¿, observou. ¿Em 1968 ele fazia política. Mas faz tempo que não faz mais.¿

Rodrigo Maia ressaltou que Dirceu teve seu mandato cassado por uma decisão da Câmara baseada em fatos reais. ¿A decisão foi em cima de um processo recheado de atos ilegais¿, afirmou. Para o pefelista, qualquer tentativa do PT ou de Dirceu de batalhar pela anistia trará clima negativo para o País.

O senador José Agripino Maia (PFL-RN) concordou. Ele alertou que acolhimento da anistia de Dirceu pelo Legislativo pode arranhar ainda mais a imagem do Congresso. ¿Aí ficará irrecuperável¿, disse.