Título: Para manter a aceleração
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2007, Notas e Informações, p. A3

É pequena, e se deve basicamente a razões estatísticas, a revisão para cima da projeção que o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) faz para o crescimento do PIB brasileiro em 2007, e que consta do mais recente Boletim de Conjuntura divulgado pela instituição. De 3,6% que projetara no fim do ano passado, o Ipea passa agora a projetar expansão de 3,7%. Por isso, o que mais chama a atenção no boletim é o desempenho anual da economia brasileira projetado para até o fim do governo Lula: o crescimento se acelerará gradualmente, até chegar a 4,8% em 2010.

O aumento da projeção para 2007 se deve à reavaliação de alguns setores da economia e à revisão de alguns dados da previsão anterior para compatibilizá-los com os números já divulgados pelo IBGE. Quanto à projeção para os próximos anos, ela não chega a ser excessivamente otimista. Alguns estudos mostram que, nos últimos quatro anos, a economia mundial cresceu à média anual de 4,7%. Se confirmadas as projeções do Ipea, só no último ano do atual governo a economia brasileira alcançará resultado parecido com esse.

O crescimento brasileiro tem sido frustrante, sobretudo quando se levam em conta o ajuste no balanço de pagamentos, o avanço na área fiscal, com resultados que apontam para a redução da dívida pública, e o declínio da inflação.

Por isso, se comparadas com o desempenho recente da economia, as projeções do Ipea podem ser consideradas animadoras. Caso elas se confirmem, resultarão no crescimento do PIB de 4,22% ao ano durante o segundo mandato de Lula. Embora longe da meta anunciada de 5% ao ano, que segundo o Ipea só será alcançada em 2010, é um número expressivo. De 1995 a 2006, o crescimento médio do Brasil foi de apenas 2,7% ao ano. No continente, essa média só foi superior à dos sócios do Brasil no Mercosul. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), na América Latina o crescimento do PIB brasileiro no ano passado, de 2,9%, só foi superior ao registrado pelo Haiti,um país devastado por sérios conflitos internos. O grupo de países emergentes, do qual o Brasil faz parte, cresceu em média 6,5% no ano passado, sempre de acordo com o FMI.

A demanda interna, em particular o consumo das famílias, pode crescer em ritmo mais acelerado do que cresceu em 2006, mas a manutenção dessa tendência está condicionada, sobretudo, à ampliação dos investimentos. É justamente nesta questão que reside uma das dúvidas sobre o crescimento dos próximos anos.

Embora tenha aumentado 3,3% ao ano entre 2003 e 2006, um ritmo superior ao crescimento do PIB no período (de 2,6% ao ano) e maior do que o aumento desse item nos dois governos FHC (média de 1,3% ao ano), a taxa de investimentos na economia brasileira ainda está abaixo da observada em 1994, ano em que foi lançado o Plano Real. Naquele ano, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que mede os investimentos em equipamentos e instalações, representou 20,8% do PIB brasileiro.

Para alcançar o crescimento projetado pelo Ipea, a taxa de investimentos deve crescer anualmente 0,5 ou 1,0 ponto porcentual, para que, em 2010, esteja entre 23% e 24% do PIB. Em valores reais, os investimentos deverão crescer em média cerca de 8% ao ano nos próximos quatro anos para alcançar esse índice. Mas os economistas do Ipea não consideram esse crescimento exagerado.

Que papel terá o governo nesse crescimento? Em termos numéricos, quase nenhum. Dadas as limitações para o corte das despesas correntes e a falta de disposição do governo para romper essas restrições, o Ipea reconhece que o aumento dos investimentos públicos será pequeno. Nas contas do Ipea, os gastos primários do governo federal deverão alcançar 24,3% do PIB neste ano, bem mais do que os 20,4% registrados no primeiro ano do governo do PT. O aumento dos gastos correntes limita, ou até impede, o crescimento dos investimentos do setor público.

Para a economia crescer no ritmo projetado, será indispensável o aumento dos investimentos privados. As empresas só investem mais quando confiam no futuro e dispõem de ambiente adequado. Se o governo Lula não consegue ampliar sua capacidade de investir, vamos esperar que pelo menos assegure o clima para que os investimentos privados confirmem as projeções do Ipea.