Título: Brasil deixa de pagar à ONU contribuição de US$ 8 milhões
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/04/2007, Nacional, p. A9

O Brasil não pagou toda sua contribuição financeira à Organização das Nações Unidas (ONU) no ano passado e acumula dívida de US$ 8 milhões. O valor agora terá de ser pago junto com a contribuição anual de 2007, que será de US$ 26 milhões. Enquanto busca recursos para quitar o débito, o Brasil é pressionado pelos Estados Unidos a aumentar o valor pago ao orçamento da ONU.

O Estado apurou que, em 2006, o pagamento brasileiro à entidade deveria ter sido de US$ 37 milhões. Mas apenas US$ 29 milhões foram depositados até o prazo final, que era 31 de dezembro. O Brasil acumulou a dívida mesmo tendo conseguido reduzir o valor de seus pagamentos à ONU em mais de 42%. O País foi beneficiado por nova fórmula de cálculo das contribuições, que agora considera não apenas o tamanho da economia, mas também o poder de compra dos cidadãos.

Com isso, o Itamaraty passou a pagar por apenas 0,8% do orçamento regular da ONU - até 2005, era 1,52%. Nas operações de paz, que contam com orçamento separado, o Brasil reduziu suas contribuições de 0,3% para 0,17% do total.

Os americanos são os que mais contribuem, com 21%, seguido pelos japoneses, com 19%. Para os países em desenvolvimento com assento nas Nações Unidas, o valor da contribuição americana deveria ser até maior, mas Washington se recusa a dar mais dinheiro. Como justificativa, os EUA alegam que não seria bom nem mesmo para a ONU ser tão dependente financeiramente de um país. Além disso, diplomatas da Secretaria de Estado admitem que colocariam ainda mais pressão para que a entidade atendesse aos interesses dos EUA.

Fontes em Washington revelam ainda que a estratégia da Casa Branca é clara em relação aos grandes países emergentes. Brasil, Rússia, Índia e China - conhecidos como ¿Brics¿ - têm papel cada vez mais relevante na política internacional e vêm apresentando taxas de crescimento de suas economias. Portanto, precisam ajudar mais a pagar as contas da ONU. Uma das formas de garantir maior pagamento é eliminar os descontos dados aos países em desenvolvimento por causa de suas dívidas externas ou outros fatores econômicos.

Os americanos já tentaram convencer os Brics a incrementar suas contribuições quando o orçamento foi negociado no ano passado. Mas foram derrotados. Diplomatas em Washington garantem que vão continuar insistindo.

O Brasil, assim como a Índia, há anos faz campanha para conseguir um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU. China e a Rússia têm assento no CS, mas por questões econômicas pagam menos do que outros integrantes.