Título: PF desmonta rede que criou 'banco paralelo'
Autor: Ogliari, Elder
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/03/2007, Economia, p. B6

Uma ação simultânea da Polícia Federal no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, denominada Operação Ouro Verde, prendeu 36 pessoas ligadas a um sistema bancário paralelo, com tentáculos no Uruguai, Estados Unidos, China e diversos paraísos fiscais. Os investigadores concluíram que o esquema era operado por diretores da agência de viagens Roger Tur, de Jaraguá do Sul (SC), e da financeira Portocred, de Porto Alegre (RS), tinha como clientes empresários importadores e exportadores de áreas como comércio e indústria de pneus, têxteis e calçados, e pode ter movimentado R$ 5 bilhões nos últimos 20 anos.

O grupo oferecia quase todos os serviços bancários, inclusive manutenção de conta corrente e investimentos abastecidos com dinheiro de caixa 2 de empresas, compra e venda de moeda estrangeira e remessa de valores para o exterior por meio de canais financeiros ilegais.

No Rio Grande do Sul, foram cumpridos 20 dos 25 mandados de prisão temporária e preventiva expedidos pela Justiça em Porto Alegre, Caxias do Sul, Novo Hamburgo, São Marcos e Santa Cruz do Sul. Um homem foi detido em Angra dos Reis (RJ). Também foram apreendidos R$ 352 mil, US$ 342 mil e 25 mil, além de veículos e obras de arte. Três dos cinco procurados estão no Uruguai. A polícia não divulgou o nome de todos os presos, apenas informou que Rogério Gonçalves e Clóvis Gonçalves, diretores da Roger Tur, e Antonio Carlos de Oliveira Haussen, José Alexandre Guilardi de Freitas e João Batista Urrutia Jung, diretores da Portocred, estão entre eles.

Em Santa Catarina, foram cumpridos os 16 mandados de prisão em Joinville, Jaraguá do Sul, Joaçaba e Treze Tílias e apreendido R$ 1 milhão em cédulas de euros e dólares. Até a noite, a polícia não havia divulgado os nomes dos presos. Trabalharam na operação 704 policiais e 161 auditores da Receita.

O delegado Alexandre da Silveira Ibarrola, chefe do Núcleo de Repressão a Crimes Financeiros da PF no Rio Grande do Sul, disse que não foram encontradas atividades ilegais nas operações regulares da Portocred, financeira com loja concorrida no centro de Porto Alegre. As acusações atingem só os proprietários, que manteriam o negócio irregular como atividade paralela.

O superintendente da PF no Rio Grande do Sul, José Francisco Mallman, disse que os presos responderão por formação de quadrilha, descaminho, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, funcionamento de instituição financeira sem autorização legal, gestão fraudulenta e sonegação fiscal e poderão pegar até 30 anos de reclusão se forem condenados pela Justiça.

Havia um sistema de compensação e transporte de dinheiro no Brasil e no exterior, com passagem por empresas fantasmas, acionado quase sempre a partir de fraudes em importações. Em acordo com fornecedores, as empresas subfaturavam o valor de importações e procuravam os ¿bancos paralelos¿ para quitar a diferença, sem a incidência de impostos.

Na agência de viagens e na financeira, os agentes clandestinos recebiam o dinheiro e mandavam que seus correspondentes, as empresas de fachada no exterior, pagassem os remetentes da mercadoria.

O esquema movimentou R$ 2,5 bilhões desde 1996, mas Mallman acredita que o total pode chegar a R$ 5 bilhões, porque há evidências de que as operações eram feitas desde 1986.