Título: Saito recua e espera Lula decidir sobre controlador
Autor: Monteiro, Tânia e Scinocca, Ana Paula
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/04/2007, Nacional, p. A6

Duas horas depois de se reunir com o presidente Lula no Planalto, o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, recuou ontem de declarações anteriores e evitou polemizar sobre a desmilitarização do controle do tráfego aéreo com o ministro da Defesa, Waldir Pires. Na nova maratona de discussão sobre o apagão aéreo, na Comissão de Relações Exteriores e Defesa do Senado, o discurso de ambos era bem mais afinado se comparado ao ¿duelo¿ que travaram nas quase seis horas de audiência na Câmara, quarta-feira.

¿O presidente disse que a decisão vai ser dele. Então, vamos aguardar¿, desconversou Saito, ao ser questionado se era a favor de o comando do tráfego aéreo se tornar civil. Mas ele defendeu o atual sistema: ¿Posso garantir que funciona bem.¿ Diante da insistência dos senadores, Saito esquivou-se: ¿Tudo depende do presidente. Na hora que ele determinar que é civil, nós vamos ter de trabalhar para isso. Ele vai falar de equipamento, de investimento e do tempo de transição, que vai ser longo.¿

O ministro, também mais cauteloso, disse que a desmilitarização do setor ¿é uma decisão de Estado e só o presidente pode tomá-la¿. Saito assegurou que ¿não há divergência¿ entre ele e o ministro em relação à separação entre tráfego civil e militar.

A poucos metros do presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Proteção ao Vôo, Jorge Botelho, o brigadeiro admitiu que existem problemas, mas insistiu em que ¿as falhas de equipamentos são pontuais¿ e os Cindactas são modernos. ¿O verdadeiro e maior problema é a falta de controladores¿, disse, ressalvando que até o fim do ano mais 500 entrarão no sistema.

Pires abandonou o discurso de que os problemas no tráfego aéreo começaram com o acidente entre o jato Legacy e o Boeing da Gol em 29 de setembro. Ele citou problemas da Varig como exemplo de que a crise vem de há muito mais tempo.

Como Pires e Saito, o diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, também recuou. Um dia depois de negar a existência de crise aérea, na Câmara, ele afirmou no Senado que suas declarações foram mal interpretadas pela imprensa. ¿Pegaram na questão semântica¿, disse. ¿Temos problemas, sim. E são problemas sérios. Mas temos absoluta convicção de que serão resolvidos.¿

A sessão durou 5h30 e não foi interrompida nem para um lanche rápido. Pires, Saito e Zuanazzi chegaram a responder a perguntas entre goles de refrigerante e mordidas em quibes e sanduíches. Saito e Pires aparentavam cansaço. Entre a Câmara, na véspera, e o Senado, foram mais de 12 horas de depoimento.

Por outro lado, a sessão no Senado, que o Planalto esperava ser mais dura que a da Câmara, acabou em aplausos dos cinco senadores aos presentes. A oposição, que prometia aproveitar para obter assinaturas para a CPI do Apagão Aéreo, só teve voz com Heráclito Fortes (DEM-PI), que saiu da presidência da Mesa para sabatinar as autoridades. O senador ficou indignado com a ausência dos colegas do PSDB. ¿Alguém viu algum tucano por aí?¿, perguntava.

No começo da audiência, ele advertiu Pires, para que não pusesse o dedo em riste ao responder a perguntas. ¿O senhor coloca o dedo em riste e dá impressão, para quem vê na TV, de que se trata de uma agressão e tenho certeza de que não é¿, disse. Pires respondeu: ¿Não é o meu forte nem nunca foi. Não tem nada de ofensivo. A gente faz isso até em conversa com familiares.¿

Zuanazzi também não escapou. Ele contou que controladores de vôo na França tinham iniciado paralisação: ¿São problemas comuns no mundo todo.¿ Heráclito não perdeu a deixa. ¿Então, já que o senhor acabou de informar o início da paralisação, peço que comunique quando a crise lá for resolvida. Será para nós um bom parâmetro saber quanto tempo as coisas levam para ser resolvidas lá e aqui¿, retrucou, sob risos do plenário.