Título: MST queima mudas de cana em SP
Autor: Siqueira, Chico
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/04/2007, Nacional, p. A13

Na quarta ocupação no Estado de São Paulo desde o início do ¿abril vermelho¿, 120 famílias do Movimento dos Sem-Terra (MST) incendiaram 40 toneladas de mudas de cana-de-açúcar que seriam plantadas na Fazenda Timborezinho, em Andradina, no noroeste paulista. Arregimentados em quatro acampamentos da região, os sem-terra entraram na propriedade por volta das 5 horas.

Depois de quebrar um cadeado e cortar a cerca lateral, o grupo montou barracos perto da sede da fazenda. Depois, mobilizou seguranças e interditou a porteira principal, para tentar isolar a propriedade. À tarde, após uma assembléia, decidiu queimar as mudas, que já estavam sendo plantadas.

¿Foi um recado para informar que em terra desapropriada não é permitido fazendeiro plantar cana¿, afirmou Lourival Plácido de Paula, coordenador do MST e líder do grupo. ¿Os fazendeiros fazem esses plantios para conseguir indenização maior do governo, a título de benfeitorias¿, disse ele, explicando a ação. Os sem-terra também exigiram que funcionários retirassem todos os equipamentos da fazenda.

O proprietário da área, Frederico Leite Moraes, não foi encontrado para comentar a invasão, mas o administrador, Manoel Ferreira da Silva, registrou boletim de ocorrência na polícia.

A fazenda, de 796 hectares - com extensas plantações de cana arrendadas para as usinas de álcool da região -, foi considerada improdutiva em 2001, quando passou a ser invadida pelo MST. A ação de ontem, de acordo com o líder dos sem-terra, foi um protesto contra a demora da Justiça em julgar os processos de desapropriação.

INQUÉRITO

A Polícia Federal de Presidente Prudente, no interior de São Paulo, abriu inquérito para apurar a denúncia de que membros do Movimento dos Sem-Terra e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) desviaram e venderam cestas básicas destinadas a acampamentos no Pontal do Paranapanema. A denúncia é do prefeito de Sandovalina, Edivaldo Oliveira (PMDB).

Na terça-feira, representantes do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, do Incra e da Ouvidoria Nacional Agrária estiveram com o prefeito de Sandovalina. Em nota à imprensa, os três órgãos informaram que vão acompanhar o caso, mas não encontraram ¿indícios que comprovem irregularidade¿.

DESOCUPAÇÃO

Cerca de 200 integrantes do Movimento Terra Trabalho e Liberdade (MTL) deixaram ontem de manhã o prédio do Incra no Recife, em cumprimento à reintegração de posse determinada pela juíza da 21ª Vara Federal, Joana Carolina Lins Pereira.

Eles haviam ocupado o prédio na segunda-feira. Em seguida, fecharam as portas do imóvel durante dois dias, impedindo a entrada da superintendente Maria de Oliveira e dos funcionários. Pediam a exoneração da dirigente, que acusam de não ter atendido a nenhum pedido do movimento em três anos.

Depois de conversarem por cerca de cinco horas com o ouvidor agrário nacional, Gercino Silva, os líderes aceitaram desocupar o Incra e já não falam mais na saída de Maria de Oliveira. O ouvidor assinou um protocolo comprometendo-se a acompanhar a pauta de reivindicações do grupo.