Título: Mantega já admite 4% para meta de inflação
Autor: Fernandes, Adriana e Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2007, Economia, p. B4

Depois de dar como certa a manutenção da meta de inflação em 4,5% para 2009, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, dá sinais de que pode não fazer uma oposição ferrenha a uma redução para 4% na meta a ser definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em junho. Apesar da preferência pela continuidade da meta de 4,5%, Mantega ¿não fará um cavalo de batalha¿ em torno do assunto e poderá aceitar a mudança que é defendida dentro do governo pelo presidente do BC, Henrique Meirelles, disse ao Estado uma fonte do ministério.

Uma concordância da Fazenda em reduzir a meta faz parte do contexto de armistício com o BC. A nova estratégia de ¿bandeira branca¿ estaria ancorada em acordo pelo qual o BC retomaria cortes de 0,5 ponto na Selic (já sinalizado na decisão de ontem do Copom), em troca do fim do fogo amigo. O entendimento entre Fazenda e BC, segundo fontes, incluiria uma redução da meta para 2009. A sinalização de uma meta menor seria fundamental, na visão do BC, para manter as expectativas de inflação no longo prazo coordenadas em uma trajetória de queda. Essa aceleração nos cortes da Selic, a partir de agora, permitiriam ao BC, mais à frente, e já trabalhando com meta menor, ter justificativa para, se necessário, adotar postura mais conservadora.

A discussão em torno da meta ainda está no começo, embora o ministro Mantega, por meio de sua assessoria de imprensa, tenha dito que a discussão ¿ não começou e que não autoriza especulações sobre o assunto¿. Ao contrário do ano passado, quando havia claramente postura da Fazenda pró manutenção da meta em 4,5%, desta vez percebe-se maior flexibilidade. Fontes do ministério evitaram marcar posição radicalmente contra o corte para 4%.

Um dos integrantes da equipe de Mantega disse que a questão-chave para o sinal verde da Fazenda para uma meta de 4% será o potencial impacto sobre a trajetória dos juros básicos. O apoio do Ministério estará condicionado aos resultados das análises técnicas. Se ficar comprovado que uma meta maior significará ¿esforço adicional¿ em termos de juros, ou seja, aumento da Selic, haverá oposição à tentativa de reduzir a meta de inflação.

¿Reduzir o juro é a grande ansiedade do ministério¿, disse a fonte. ¿Mas tudo indica que tem espaço para reduzir a meta sem afetar a trajetória de queda no juro. E se isso se confirmar, aí concordo, pois quanto menor a inflação, melhor.¿

Para subsidiar as discussões no âmbito do CMN e reforçar sua argumentação em favor da manutenção da meta em 4,5%, Mantega recomendou aos assessores ampla análise da inflação, principais pontos de pressão e trajetória dos preços administrados. No lado do BC, a visão é que, com as expectativas de inflação abaixo da meta para este ano e o próximo o momento é propício para reduzi-la, consolidando o novo nível de inflação, conquistado com a política monetária austera do BC.

O eventual entendimento entre Fazenda e BC, no entanto, não significa apoio incondicional de outros setores identificados com a chamada ala desenvolvimentista. O presidente da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), afirmou que é contra a redução.

Para ele, trata-se de tentativa de oficializar a meta oculta do BC. ¿O grave é que sobrecarrega a política fiscal, pelo custo das reservas, e permite uma arbitragem estúpida¿, afirmou. Fazendo contraponto está o economista Cláudio Haddad, diretor-presidente do Ibmec. Ele considera que a redução da meta é fundamental para consolidar a estabilidade econômica no Brasil e não exigiria sacrifícios adicionais de juros.