Título: ONU quer enviar tropa do Brasil para Darfur
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/04/2007, Nacional, p. A5

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-Moon, quer contar com soldados brasileiros na força de paz de 3 mil homens que precisa enviar a Darfur, no Sudão. Mas o Itamaraty vem resistindo à idéia, para evitar discutir a responsabilidade do governo sudanês na crise. O cálculo do governo é de que precisa manter sua posição de diálogo com os países africanos para garantir seu eventual apoio na busca por uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU.

Depois de meses de negociação com o governo do Sudão, a ONU conseguiu sinal verde há uma semana para enviar tropas de paz à região. Mais de 200 mil pessoas já morreram em quatro anos de conflito em Darfur, onde milícias árabes apoiadas pelo governo sudanês combatem separatistas não-árabes. Calcula-se em 2,5 milhões o número de refugiados. Dados coletados por representantes da ONU no Sudão indicam que o governo teria financiado milícias e, portanto, seria em parte responsável pelos massacres.

Com mais de 100 mil soldados pelo mundo, a ONU tem dificuldades para obter dos países membros a mobilização de novas tropas. Para a força de paz no Sudão, os assessores do secretário-geral multiplicam os encontros com governos considerados como centrais no fornecimento de soldados e o Brasil é um dos principais alvos.

¿Teremos uma missão de paz híbrida, com soldados africanos e de outras regiões¿, disse Ban Ki-Moon, que assumiu o cargo de secretário-geral no início do ano. ¿A comunidade internacional esperou demais e a população do Sudão sofreu por muito tempo. Ainda nem sabemos qual é o total de vítimas. Mas sabemos que é uma situação inaceitável.¿

Na ONU, autoridades acreditam que o apoio do Brasil à missão de paz pode ter dois obstáculos. O primeiro é o fato de que o Itamaraty surpreendeu muitos países nos últimos meses ao evitar votar resoluções que responsabilizem o governo do Sudão pelos massacres. O segundo é que o governo brasileiro vem insistindo em que as tropas no Haiti já esgotam seus recursos para missões no exterior.

Nos corredores da organização a percepção é de que o País terá de assumir novas responsabilidades se de fato quer ser um dos novos membros permanentes do Conselho de Segurança. Hoje só Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido são membros permanentes. A discussão sobre a reforma da ONU, incluindo a ampliação do conselho, não é nova. ¿Há mais de dez anos a ONU debate o assunto e não consegue chegar a acordo¿, admitiu Ban Ki-Moon, que visitará os países latino-americanos no segundo semestre. Em 2005, a organização tentou votar a expansão do conselho, mas não obteve consenso.

Assessores indicam que Ban Ki-Moon veria a candidatura do Brasil como ¿legítima¿. Na semana passada, o secretário recebeu uma delegação do Itamaraty para tratar do assunto, dentro da nova fase de reforma, iniciada na sexta-feira, com uma nova proposta de debates e fórmulas menos ambiciosas.

APOIOS

Os assessores de Ban Ki-Moon acham que o Brasil deveria estar mais preocupado com a falta de apoio na própria América Latina do que em garantir a boa vontade de países africanos. Eles avaliam que a crescente divisão política na América Latina pode virar um obstáculo. Nos anos 90, a principal oposição ao Brasil vinha da Argentina. Hoje, Venezuela, Colômbia e México também não estariam entusiasmados com a candidatura. A esperança brasileira é manter o apoio de Alemanha, Japão e Índia, que também querem um posto no conselho. Na semana passada, o G-4, como são conhecidos, se reuniu em Brasília para fechar uma estratégia para a próxima etapa de debates na ONU.

¿Diante da sensibilidade do assunto, não posso dizer quando uma votação sobre a expansão do conselho vai ocorrer. Está nas mãos dos países como a expansão será tratada¿, afirmou Ban Ki-Moon em Genebra. ¿Todos concordam que, diante das mudanças drásticas no cenário internacional, é necessário expandir o conselho. Mas quando falamos quem deve estar, quantos e quando, não há um acordo.¿

FRASES

Ban Ki-Moon Secretário-geral da ONU

¿Teremos uma missão de paz híbrida, com soldados africanos e de outras regiões¿

¿A comunidade internacional esperou demais e a população do Sudão sofreu por muito tempo. Ainda nem sabemos qual é o

total de vítimas. Mas sabemos que é uma situação inaceitável¿.