Título: Oposição tenta abafar crise com agenda comum
Autor: Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/04/2007, Nacional, p. A6

Depois da troca de críticas públicas que abalou a relação entre PSDB e DEM, as cúpulas dos dois partidos decidiram fazer uma agenda mínima de ação conjunta para mostrar que continuam a ser a oposição ao governo Lula no Congresso. A decisão saiu de uma série de reuniões em Brasília e São Paulo.

Coube ao governador de São Paulo, o tucano José Serra, o primeiro gesto de aproximação, ao oferecer um jantar na segunda-feira ao ex-presidente do DEM Jorge Bornhausen (SC) e ao novo presidente, deputado Rodrigo Maia (RJ). Ontem, foi a vez de o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), convidar Maia para um almoço, ao mesmo tempo em que num restaurante de Brasília se reuniam deputados das duas legendas.

O resultado concreto foi modesto, até porque a meta é preservar a parceria na oposição ao menos até a eleição municipal de 2008. Tanto que Bornhausen fez questão de lembrar a Serra seu diálogo permanente com o ex-presidente Fernando Henrique na primeira gestão Lula. A seu ver, o melhor caminho é reeditar o fórum das oposições, que deve agregar ainda o PPS e independentes como o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE).

¿Podemos até não estar no mesmo palanque em 2010, mas, daqui até lá a ordem é buscar as convergências, que são muitas, e minimizar as diferenças¿, resumiu o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN). ¿Se vamos ou não estar juntos no futuro, isto é conversa para 2009, e não para hoje¿, disse Bornhausen.

A primeira providência para manter o casamento de 13 anos até lá é parar de lavar roupa suja em público. ¿O importante é fazer o debate das diferenças internamente, e não pela imprensa¿, observou Maia. ¿Somos aliados, mas isso não significa que a gente pense tudo igual¿, emendou Tasso, frisando que haverá conversas semanais entre os dirigentes dos dois partidos.

No Senado, PSDB e DEM decidiram se articular para, entre outros objetivos, apressar a CPI do Apagão Aéreo. Na Câmara, foi acertado que a oposição fará tudo para acelerar a votação da reforma política e dos projetos de segurança pública. ¿Há exageros dos dois lados, mas combinamos que, em vez de pôr gasolina no fogo da crise, vamos todos ser bombeiros¿, contou o deputado Paulo Bornhausen (DEM-SC). O ponto positivo, para um participante do almoço, é que o líder Onyx Lorenzoni (DEM-RS) tratou de ¿se reposicionar¿. ¿Onyx disse que PSDB mais PT é igual ao demônio. Assim não dá¿, protestou o líder da minoria, Júlio Redecker (PSDB-RS).

Em São Paulo, a ex-deputada Zulaiê Cobra se desfiliou ontem do PSDB, acusando-o de ter perdido sua identidade oposicionista e fazendo críticas pesadas às lideranças tucanas, como Serra. ¿Hoje entreguei minha carta de desfiliação, estou desfiliada.¿ Ela se disse ¿muito decepcionada¿, especialmente com a aproximação do PSDB com Lula.