Título: Brasil é 2º país onde mais se faz sexo, mas só 42% se satisfazem
Autor: Girardi, Giovana
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/04/2007, Vida&, p. A16

O Brasil é o segundo país onde mais se faz sexo, no entanto menos da metade das pessoas se mostra satisfeita com sua vida sexual. Esse é o resultado de uma pesquisa conduzida com 26 mil pessoas em 26 países e divulgada ontem pela Durex, empresa européia de preservativos.

Em média, o brasileiro tem relações sexuais 145 vezes por ano - perde apenas para os gregos, com 164 vezes -, diz que sexo é muito importante (resposta de 79% dos participantes do estudo) e afirma que sua vida sexual é excitante (64%). Mas, em compensação, só 42% se declaram satisfeitos (a porcentagem é a mesma tanto para homens como para mulheres). A média mundial de satisfação é de 44%.

Os problemas apontados para esse mau desempenho são cansaço e falta de romantismo: 57% dos entrevistados disseram que melhorariam a satisfação sexual se estivessem menos estressados; 40% afirmaram que gostariam de ter mais carinho e amor.

O levantamento, feito em agosto e setembro, traduz em números o que psicólogos e especialistas em orientação sexual têm observado nos consultórios: quantidade definitivamente não é sinônimo de qualidade.

'Essa é a identidade que o brasileiro tem de si mesmo e que os outros países têm de nós. Somos vistos como um povo sexualizado. Então, é verdade, nós fazemos muito sexo, mas sem muito prazer', afirma o psicólogo Oswaldo Rodrigues Jr., diretor do Instituto Paulista de Sexualidade. 'O problema apresentado pela pesquisa é que o brasileiro se considera normal mesmo sem tirar satisfação disso', complementa.

Para Miguel Fontes, pesquisador de Saúde Pública da Universidade Johns Hopkins, que participou da divulgação dos dados, o alerta merece uma reflexão. 'É importante observar que esse problema não está presente no sistema de saúde. Temos dados epidemiológicos sobre doenças sexualmente transmissíveis, mas não sobre a vida íntima das pessoas', pondera.

'Temos de discutir o que é prazer. Ao receber camisinhas, a população poderia aprender como melhorar esse lado. Além de fornecer tratamento, temos de nos preparar para dar dicas de qualidade, de bem-estar', diz o pesquisador, que defende que o tema seja discutido também por professores em aulas de educação sexual.

Como o estudo foi feito eletronicamente (a maioria respondeu à pesquisa pelo computador), os estudiosos da área acreditam que os entrevistados podem ter se sentido mais à vontade para falar sobre questões íntimas, o que aumenta em teoria a credibilidade das respostas.

DISFUNÇÕES SEXUAIS

Além de abrirem o jogo sobre sua insatisfação ou sobre o que mais gostariam de fazer na cama (veja no quadro acima), os brasileiros também falaram sobre os problemas que enfrentam nesse campo.

Cerca de 37% disseram sofrer alguma dor no ato sexual, um terço das mulheres afirmou sofrer de secura vaginal, 27% das adultas relataram perda de libido, um terço dos homens declarou ter dificuldade em manter uma ereção e 26% das pessoas admitiram já terem tido uma doença sexualmente transmissível.

Esse número de DSTs é maior do que o considerado pelo Ministério da Saúde, de cerca de 20%, o que mostra que os casos são subnotificados porque muita gente vai direto à farmácia procurar remédio, sem procurar um médico.

Os dados obtidos pela pesquisa da Durex, apesar de considerarem o Brasil inteiro como uma coisa só (os resultados não foram separados por regiões) - em comparação com o outros países participantes -, ficaram bem próximos de um outro levantamento nacional feito em 2003.

O 'Estudo da Vida Sexual do Brasileiro', organizado pelo Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo, encontrou praticamente a mesma freqüência e o mesmo grau de insatisfação, comenta a psiquiatra Carmita Abdo, do Hospital das Clínicas, que coordenou o estudo. 'Pesquisas como essas estão nos mostrando que ainda temos um caminho a percorrer na busca pela satisfação sexual e ajudam a fornecer diretrizes.'

Segundo Carmita, nas últimas décadas, o País, assim como o resto do mundo, tem privilegiado a prevenção aos riscos de doenças e gravidez em detrimento do prazer sexual porque havia uma demanda nesse sentido, com o perigo da aids, por exemplo.

'A doença nos trouxe uma maturidade forçada. Ainda temos de cuidar disso, claro, mas o ideal agora é começar a pensar em unir as duas coisas. Nosso desafio é não perder de vista a prevenção e ao mesmo tempo melhorar o prazer', defende a pesquisadora. 'Ainda precisamos quebrar muitos tabus, muitos preconceitos, mas defendo que cada vez mais se sugira que a prevenção faça parte dos jogos preliminares.'