Título: Yeltsin é enterrado longe de ex-líderes da União Soviética
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Fonte: O Estado de São Paulo, 26/04/2007, Internacional, p. A19

A Rússia despediu-se ontem do ex-presidente Boris Yeltsin, enterrado em Moscou numa cerimônia acompanhada por líderes e personalidades de vários países. Considerado o pai da democracia russa e com participação decisiva para o fim da União Soviética, Yeltsin morreu aos 76 anos de insuficiência cardíaca na segunda-feira.

Autoridades russas quebraram o protocolo e não realizaram o enterro de Yeltsin no Mausoléu do Kremlin, na Praça Vermelha, onde estão Lenin e outros líderes comunistas. O atual presidente russo, Vladimir Putin, descreveu Yeltsin como o ¿motor da mudança irreversível¿ no país e prometeu manter seus objetivos.

Centenas de pessoas participaram do velório de Yeltsin na Catedral Cristo Salvador. Ao lado da viúva Naina e das filha Yelena e Tatyana, estavam Putin, dignitários de vários países e personalidades como os ex-presidentes americanos George H. W. Bush e Bill Clinton, e o ex-primeiro-ministro britânico John Major. Até mesmo o ex-líder soviético Mikhail Gorbachev, que se tornou inimigo de Yeltsin com o colapso da URSS, compareceu ao funeral.

Antes do início da cerimônia, 20 mil pessoas foram ao local para se despedir do ex-presidente. ¿Vim para prestar homenagem a Boris Nikolayevich (Yeltsin) por tudo que ele nos deu: liberdade e oportunidade para realizar nossos objetivos¿, disse Svetlana Zamishlayeva, de 73 anos.

A missa durou mais de uma hora e foi conduzida pelo patriarca da Igreja Ortodoxa russa, Alexy II. ¿Toda história do século XX foi refletida por Boris Yeltsin¿, disse. A própria catedral foi reconstruída por ordem de Yeltsin entre 1992 e 2000, após ter sido demolida em 1931 pelos comunistas. Depois da cerimônia, uma procissão seguiu o carro funerário que levou o caixão até o Cemitério de Novodevichy.

O governo russo organizou uma recepção no Kremlin após o funeral. Putin, que herdou o governo de Yeltsin em 1999, prometeu concretizar os objetivos do ex-presidente. ¿Yeltsin mudou a face do poder, rompeu o muro entre a sociedade e o Estado, e serviu fielmente seu povo¿, afirmou. Apesar das homenagens, muitos russos não se mostraram comovidos com a morte de Yeltsin, que governou o país entre 1991 e 1999. Parte da população ainda culpa o ex-presidente por ter enterrado a superpotência da URSS, pela guerra na Chechênia e pelas reformas que desvalorizaram a poupança dos russos. ¿Minha mãe adorava Yeltsin porque eles nos deu a democracia, meu pai o odeia porque ele destruiu um país fantástico¿, afirmou a estudante Marina Shestakova.