Título: Virada no cenário desafia o Copom
Autor: Freire, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/05/2007, Economia, p. B3

A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), nos dias 5 e 6 de junho, será marcada por uma rara e profunda modificação positiva no cenário econômico brasileiro. Considerados preços-chaves, o câmbio e os juros moveram-se em uma clara trajetória de queda, desde o último encontro do colegiado do Banco Central (BC), em abril.

O dólar, que estava cotado em R$ 2,021 em 13 de abril, fechou ontem em R$ 1,944. Movimento semelhante foi observado nos contratos futuros de juros, em curva descendente.

Na BM&F, os juros dos contratos de três anos recuaram e já se situam no nível de 10,15%, bem próximo de uma taxa nominal de apenas um dígito. A taxa de um ano está em 10,94%. Sem artificialismos, a taxa recuou calcada na melhora dos cenários para o comportamento da inflação no curto e médio prazos. Taxas de contratos de DI futuro mais longos - de 2011 em diante - já estão em um dígito. Em relação à Selic, depois de manter o corte dos juros em 0,25 ponto porcentual na reunião anterior, o Copom, acredita a maioria do mercado, vai se render às mudanças para melhor do cenário nacional e internacional e começará um período de cortes de 0,50 ponto porcentual.

APOSTAS

Logo após a divulgação da ata da reunião de abril, com o documento mostrando algumas nuances ainda consideradas conservadoras, as apostas ficaram mais divididas entre redução de 0,25 ponto e de 0,50 ponto. Do fim de abril ao fim de maio, no entanto, por causa das diferenças de cenários, o corte de 0,50 ponto foi alargando seu espaço e ruma para ser consenso às vésperas do próximo Copom. Tal aposta já se tornou, até mesmo, mediana das projeções de mercado pela última pesquisa Focus, feita com instituições financeiras, divulgada pela BC. E teses mais ousadas - de corte de 0,75 ponto porcentual e até de 1 ponto - começaram a ser ventiladas, como a do ex-diretor do BC e atual diretor-executivo do Banco Itaú, Sérgio Werlang, para quem 0,75 ponto é o 'adequado' agora e 1 ponto 'não seria descabido'.

A economista da Tendências Consultoria, Marcela Prada, destaca que, desde a reunião do Copom em abril, as expectativas de mercado para o IPCA deste ano foram reduzidas de 3,79% para 3,59% na pesquisa Focus. Para 2008, as estimativas de mercado para o IPCA seguiram estáveis em 4%. 'Se observarmos a média das projeções (2008), veremos que ela recuou desde 13 de abril até o dia 18 último de 4,09% para 3,96%', diz Marcela. Esse é um sinal, segundo ela, de que, em breve, a própria mediana das previsões de IPCA no próximo ano se moverá para baixo.

Mais otimista, o economista da LCA Consultores, Raphael Castro, já trabalha com uma estimativa de inflação de 3,60% para o período. 'A nossa projeção só não é idêntica aos 3,50% esperados para este ano porque esperamos que o câmbio devolva um pouco a apreciação ocorrida e termine o próximo ano em R$ 2,10', explica.

Formador de taxa de câmbio, o risco Brasil recuou para 139 pontos, uma mínima histórica. 'Isso ajuda a manter o câmbio valorizado e a deixar a inflação fora dos horizontes de preocupações dos mercados', diz a economista da Tendências.

A redução do risco ganhou impulso adicional com a decisão da Fitch e da S&P de elevar a nota de classificação de risco de crédito do País e deixá-lo a apenas um passo do grau de investimento. 'Na verdade, o Brasil hoje já é grau de investimento se levarmos em conta que nossa dívida externa é inexpressiva', comenta uma fonte do mercado financeiro.

Nesse ambiente, o Tesouro Nacional captou cerca de R$ 750 milhões nos mercados internacionais pagando uma taxa de retorno (yield) de 8,938%, outra mínima histórica.