Título: Mais um paliativo?
Autor: Ming, Celso
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/06/2007, Economia, p. B2

O ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, avançou na semana passada que o governo estuda novo pacote administrativo destinado a conter a derrubada das cotações do dólar no câmbio interno.

Entre as decisões em estudo estão reduzir o financiamento de importações e retardar as operações de Adiantamento de Contrato de Câmbio, pedido recorrente dos dirigentes da indústria.

Convém entender como isso funciona e o que os interessados pretendem com as modificações.

A idéia é coibir operações de arbitragem com juros no comércio exterior, que tiram proveito das diferenças entre juros internos e externos. Pode ocorrer nas importações ou nas exportações. O comerciante importa bens de consumo, como azeite, vinho, bacalhau ou confecções, com dois anos para pagar. Vende o produto rapidamente no mercado interno e usa o resultado para reforçar seu capital de giro. Assim, não toma financiamento nos bancos a 60% ao ano e adia o pagamento ao fornecedor externo.

Com as exportações, ocorre coisa parecida. Mesmo antes de embarcar a mercadoria, o exportador vai ao banco e faz um Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACC), ou seja, antecipa tanto a desova de dólares como o recebimento dos reais correspondentes a sua receita futura. O empresário usa os reais na produção e também dispensa capital de giro tomado nos bancos.

O que pretendem os dirigentes da indústria é a proibição de financiamentos de longo prazo nas importações e a imposição de um prazo para fechamento dos ACCs. Com isso, procuram aumentar a demanda e reduzir a oferta de dólares no câmbio interno. Acreditam que podem produzir uma recuperação nas cotações do câmbio e aumentar a competitividade da indústria.

Essa idéia tem quatro problemas. O primeiro: não cria nova demanda por dólares nem reduz a oferta; só antecipa a demanda preexistente ou adia a procura. Por alguns meses isso talvez pudesse contribuir para segurar as cotações, mas, uma vez decorridos os novos prazos a serem exigidos, os fluxos seriam retomados com intensidade equivalente.

Segundo: se tiverem de retomar seus financiamentos de capital de giro nos bancos aos juros citados, as empresas sofrerão aumento dos custos de produção. É estranho que dirigentes da indústria pressionem por uma decisão que implique aumento de custos se eles dizem brigar pelo oposto.

Terceiro: prazo longo no financiamento de importações não pode ser algo a combater. Se forem máquinas, matérias-primas e bens intermediários, quanto maior o prazo menor o custo de produção e melhor para a economia. Se forem bens de consumo, no mínimo ajudarão a conter a inflação. Além disso, se o governo diferenciasse importações de bens de capital de importações de bens de consumo, o comércio externo ficaria submetido a mais burocracia, o que os empresários dizem querer evitar.

Convém acrescentar que os bens de consumo pesam pouco na pauta de importações: apenas 13,3%. O efeito da antecipação do seu pagamento na demanda de dólares seria quase irrelevante.

Conclusão: se for nessa direção, o novo pacote do câmbio será mais um paliativo sem força para virar o jogo.