Título: Antiaids fica 30% mais barato
Autor: Westin, Ricardo.
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/06/2007, Vida&, p. B18

Quase dois meses depois de quebrar pela primeira vez a patente de um remédio do tratamento da aids, por causa do valor elevado cobrado pelo fabricante, o Brasil conseguiu o barateamento de mais um medicamento do coquetel antiaids.

Ainda nesta semana, o governo assinará um novo contrato com o laboratório americano Abbott, que fabrica o medicamento Kaletra. De acordo com o Ministério da Saúde, o remédio ficará 30% mais barato, o que significará uma economia anual de US$ 10 milhões (cerca de R$ 19,3 milhões) aos cofres públicos. Atualmente, as 17 drogas do coquetel antiaids custam R$ 1 bilhão ao ano.

No início de maio, o governo brasileiro quebrou a patente do Efavirenz, produzido pelo laboratório americano Merck. A decisão, inédita e polêmica, foi tomada após várias tentativas, sem sucesso, de reduzir o preço do medicamento. O Brasil deixou de comprar o remédio produzido pelo laboratório que o criou. Passou a comprar uma versão genérica - muito mais barata - produzida na Índia.

¿Depois daquele licenciamento compulsório (a quebra de patente), os outros laboratórios foram procurados para discutir os preços. Este (a redução do preço do Kaletra) é o primeiro resultado¿, afirmou ontem o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, numa sabatina realizada em São Paulo pelo jornal Folha de S.Paulo.

O governo brasileiro já havia ameaçado quebrar a patente do Kaletra. A ameaça, em 2005, só não foi concretizada porque o laboratório conseguiu negociar uma redução do valor que agradou ao Ministério da Saúde. Temporão fez questão de destacar que, desta vez, o laboratório Abbott não foi ameaçado.

O Brasil foi, em 1996, o primeiro país da América do Sul a fornecer tratamento gratuito aos doentes de aids. O programa nacional de distribuição de medicamentos antiaids alcança hoje 180 mil pessoas.

HPV FORA DO CALENDÁRIO

No evento de ontem, o ministro afirmou que não pretende, pelo menos por ora, incluir a vacina contra o HPV no calendário anual de vacinação do governo. O HPV é o vírus responsável por 70% dos casos de câncer de útero. A vacina, indicada para meninas e pré-adolescentes, acaba de ser desenvolvida pelo laboratório Merck e já é bastante procurada no Brasil na rede privada de saúde.

¿É um produto que só está registrado em meia dúzia de países. Ainda não existe clareza sobre seus efeitos, principalmente a longo prazo¿, disse Temporão.

Além disso, segundo o ministro, há o motivo econômico. Todas as vacinas oferecidas pelo governo custam hoje R$ 700 milhões por ano. Apenas a vacina contra o HPV, se dada às meninas brasileiras de 9 a 12 anos de idade, custaria R$ 1,8 bilhão.

APLAUSOS E VAIAS

José Gomes Temporão foi aplaudido pela platéia que assistia à sabatina quando disse que artistas deveriam ter responsabilidade e não fazer propaganda de bebidas alcoólicas. Logo em seguida, porém, foi vaiado pela mesma platéia ao dizer que não existe ¿caos¿ no sistema público de saúde.

O assunto surgiu quando ele foi questionado sobre como reagiria se tivesse de ser atendido num hospital do governo. ¿Eu tenho uma saúde muito boa¿, respondeu, de pronto. Logo em seguida, defendeu o sistema público citando um exemplo: ¿No Rio, se você sofrer um acidente ou levar uma bala, vai ser muito bem atendido num pronto-socorro municipal. Fico incomodado quando leio manchetes que dizem que existe caos na saúde.¿

Diante da reação hostil da platéia, Temporão começou a citar números - ¿fazemos 12 milhões de internações por ano, 2,2 milhões de partos, 1 bilhão de procedimentos diagnósticos, 300 mil consultas, 15 mil transplantes¿ - e a comparar o Brasil com outros países - ¿na Inglaterra, é preciso esperar meses para fazer uma cirurgia¿.

¿Não existe caos na saúde. Existem situações localizadas da mau atendimento, existe espera demasiada por determinados procedimentos... Caos é absoluto descontrole, as pessoas não sendo atendidas. Eu não vejo isso. Os que falam do caos são os que não usam o sistema.¿