Título: Comandante admite sobrecarga de controlador antes de acidente da Gol
Autor: Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/07/2007, Metrôpole, p. C3

A Aeronáutica submetia os controladores de vôo a uma carga de trabalho excessiva, antes do acidente entre o Boeing da Gol e o jato Legacy, em 29 de setembro de 2006, para compensar a falta de infra-estrutura do sistema de controle de tráfego. A revelação foi feita ontem pelo comandante do Centro de Controle de Vôo de Manaus (Cindacta-4), coronel Eduardo Antonio Carcavallo Filho, em depoimento à CPI do Apagão Aéreo da Câmara. Ele admitiu que, antes da colisão entre o avião da Gol e o Legacy, os operadores de vôo controlavam mais de 14 aviões ao mesmo tempo - no limite das regras de segurança.

'A prática de um controle maior era corriqueira, cotidiana e aceita pelos controladores', disse Carcavallo. Esta é a primeira vez que um oficial da Força Aérea Brasileira (FAB) reconheceu que os sargentos tinham sobrecarga de trabalho. 'Quando o tráfego aumentava, eles (os controladores) preferiam trabalhar com um pouco mais de tráfegos a chamar o pessoal que estava na sala de descanso', afirmou o comandante do Cindacta-4. 'Mas, depois dos acidentes, resolveram trabalhar estritamente em cima das normas.'

O comandante do Cindacta-3 (Recife), coronel José Alves Candez Neto, também ouvido pela CPI, observou que os controladores passaram a emitir mais relatórios de situações de perigo depois do acidente. Antes da colisão, eram relatados nove ou dez casos por mês. Depois, o número saltou para 22 por mês. Apesar disso, os dois comandantes ressaltaram que o espaço aéreo é seguro.

Carcavallo negou que os operadores estejam fazendo uma mobilização para prejudicar o sistema. 'Não existe greve de controlador. O que existe é uma preocupação muito grande com o que pode acontecer em função de eles terem sido indiciados', observou. Os sargentos adotaram a nova postura depois que o Ministério Público Federal resolveu indiciar três controladores - que estavam de serviço no Cindacta-1 (Brasília) no dia do acidente - por crime de homicídio culposo e um operador por crime doloso. 'Quem vai querer ser controlador já que é crime doloso?', indagou o deputado Miguel Martini (PHS-MG), ex-operador de vôo. Tanto Carcavallo quanto Candez concordaram, sem fazer comentários.

LEGACY

Carcavallo afirmou ainda que os pilotos americanos Joe Lepore e Jan Paladino podem ter desligado involuntariamente o transponder do jato Legacy, que se chocou com o Boeing da Gol, em 29 de setembro, matando 154 pessoas. O equipamento indica a aproximação de aeronaves. Mas o comando da FAB informou que a comissão que investiga o acidente não concluiu seus trabalhos.