Título: Volta de Rondeau facilita troca de Renan por Sarney
Autor: Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/07/2007, Nacional, p. A6

Lula avisou ao PMDB que o quer no ministério; para setores do governo, está em jogo sucessão no Senado

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comunicou à cúpula do PMDB que quer devolver a cadeira de ministro das Minas e Energia a Silas Rondeau já na próxima terça-feira. Não por acaso. Envolvido em denúncias de corrupção apuradas pela Operação Navalha da Polícia Federal, Rondeau acabou desgastando a imagem de seu padrinho político, senador José Sarney (PMDB-AP), que o Palácio do Planalto quer agora reabilitar. ¿A volta de Rondeau soa como música aos ouvidos do presidente Lula e tem total apoio do PMDB¿, resume o líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).

Um interlocutor palaciano afirma que Lula ainda trabalha com o cenário de o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), permanecer no cargo. Setores mais pragmáticos do governo investem, porém, no plano B da sucessão de Renan. Entendem que apressar a volta de Rondeau é útil, neste caso, para reforçar a articulação em torno de Sarney e evitar contestações ao nome dele.

Foi também o pragmatismo que moveu Lula a assumir de público, na semana passada, sua torcida pela permanência de Renan, ao repisar a tese de que ninguém pode ser culpado até prova em contrário.

Um de seus colaboradores explica que Renan é a alternativa mais ¿confortável¿ para o governo no comando do Congresso porque é, ¿disparado¿, o melhor articulador da bancada de senadores peemedebistas, majoritária na Casa. Mas o governo não quer ficar fora do debate da sucessão, já em curso no bastidor.

ROSEANA

Um dirigente do PMDB conta que Sarney tem se comportado de maneira discreta no caso da possível sucessão de Renan. O ex-presidente prefere lembrar o nome de sua filha e líder do governo no Senado, Roseana Sarney (PMDB-MA). Segundo o dirigente, a bancada não aceitaria Roseana porque ela é novata no partido e, no final, a presidência ficaria com Sarney. O Planalto vê nele não só a alternativa mais forte ao atual presidente, dentro do PMDB, mas, sobretudo, a mais confiável.

Ainda assim, mantém sua preferência por Renan, para resguardar Sarney para os dois últimos anos de gestão Lula, quando o clima de disputa eleitoral sempre cria dificuldades ao governo. O temor, neste caso, é o de perder para a oposição a presidência do Senado, onde a maioria governista é estreita.

Se queimar a alternativa Sarney para concluir o mandato de Renan, o Planalto terá de buscar outro peemedebista para presidir o Senado de fevereiro de 2009 a fevereiro de 2011. O regimento não permite a reeleição no meio da legislatura. Pior: o Planalto avalia que nenhum outro senador peemedebista tem a força eleitoral de Sarney para enfrentar e vencer uma eventual disputa com um adversário do governo.