Título: Divisão do Copom se amplia e juro cai 0,5 ponto
Autor: Pereira, Renée e Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/07/2007, Economia, p. B4

Três dos sete diretores do BC votaram pela redução de 0,25 ponto, o que pode significar a desaceleração no ritmo de queda no resto do ano

O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu reduzir a taxa Selic em 0,5 ponto porcentual, para 11,5% ao ano. Por 4 votos a 3, os dirigentes do Banco Central (BC) optaram por manter o ritmo de queda mais intenso, como em junho. Mas a continuidade dos cortes, nessa proporção, nas próximas reuniões, é dúvida, especialmente porque o BC mudou o texto do comunicado divulgado após o encontro de ontem.

'Avaliando as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu reduzir a taxa Selic para 11,5% ao ano sem viés, por 4 votos a favor e 3 votos pela redução da taxa Selic em 0,25 ponto. O comitê irá acompanhar a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária', destacou o BC.

O novo texto aliado ao placar, diferente da reunião anterior (de 5 a 2), reforçou a aposta do mercado financeiro de que os dirigentes do BC diminuirão o ritmo de corte para 0,25 ponto já no próximo encontro, marcado para setembro. O economista Alexandre Póvoa, da Modal Asset Management, avalia que o placar de ontem é uma mensagem de que o resultado do próximo Copom está mais para 0,25 do que para 0,5 ponto.

Póvoa destaca que, de fato, houve uma piora no cenário para corte de juros nas últimas semanas. 'A inflação piorou e a atividade econômica está bastante aquecida', afirmou ele, que acredita que o câmbio ainda dá respaldo para o corte de 0,5 ponto. 'Teremos de começar a construir projeções mais programadas para inflação de 2008.'

O economista Constantin Jancso, do Santander Banespa, também acha que a mudança de um voto reforça uma desaceleração do corte. Na opinião dele, a alta verificada na inflação é pontual.

O que vai pesar na decisão do BC é o ritmo de atividade bastante robusto. 'Os cortes promovidos pelo Copom não se materializaram totalmente na economia. Ainda terão muito impacto na atividade.' O economista aposta numa Selic de 10,75% ao fim deste ano e de 9,75%, em 2008.

O economista Newton Rosa, da Sul América Investimentos, tem opinião semelhante: 'Com a economia evoluindo em ritmo acima do potencial e mirando a inflação de 2008, o retorno a uma estratégia mais conservadora favoreceria a manutenção da estabilidade inflacionária, garantindo sustentabilidade ao crescimento econômico.'

A redução de ontem foi a 17ª consecutiva, num dos maiores ciclos de queda da Selic. Desde setembro de 2005, o Copom já reduziu os juros em 8,25 pontos porcentuais. Com a decisão de ontem, o Brasil deixa a liderança dos maiores juros reais do mundo, pela primeira vez desde fevereiro de 2005.

A taxa, que considera o desconto da inflação projetada para os próximos 12 meses, caiu de 8,3% para 7,7% ao ano. Segundo cálculos da consultoria UpTrend, o posto agora é ocupado pela Turquia, onde o juro real é de 8,2% ao ano. No quadro dos juros nominais, o Brasil ocupa a terceira colocação do ranking mundial.