Título: DF proíbe servidor de usar gerúndio
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/10/2007, Nacional, p. A6

Arruda baixou medida para banir `desculpa de ineficiência¿

Demissão como essa é raríssima, se não inédita. Mas o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), encheu-se de coragem e demitiu o gerúndio - isso mesmo, o tempo verbal que se tornou uma praga, principalmente no serviço público e nos serviços de call center - de todos os órgãos da administração pública da capital.

O inusitado decreto, que tem quatro linhas em quatro artigos, foi assinado pelo governador Arruda no dia 28, sexta-feira. Foi publicado ontem na página 19 do Diário Oficial do governo do Distrito Federal.

O decreto é claro logo em seu artigo primeiro: ¿Fica demitido o gerúndio de todos os órgãos do governo do Distrito Federal.¿ E o artigo segundo do decreto continua firme no ataque ao tempo do verbo, ligando-o à deficiência verificada no serviço público: ¿Fica proibido a partir desta data o uso do gerúndio para desculpa de ineficiência.¿

Curioso é que o texto seguiu o padrão de todos os decretos e estabeleceu, em seu artigo quarto, o lugar-comum ¿revogam-se as disposições em contrário¿.

Não se tem notícia de que algum decreto anterior tenha obrigado o uso do gerúndio nas repartições do Distrito Federal.

O governador está em Nova York, em busca de verbas do Banco Mundial.

Informou, por intermédio de sua assessoria, que buscou fazer uma provocação e que a idéia é atacar a burocracia dos governos.

De uns tempos para cá - principalmente pela influência da língua inglesa, que o utiliza muito - a burocracia das repartições públicas e os funcionários de call center passaram a usar e a abusar do gerúndio, desgastando-o sobremaneira.

Não há quem não tenha ouvido nestes locais frases como ¿eu vou estar transferindo o senhor¿, ¿nós vamos estar providenciando¿, e assim por diante, sempre com muito exagero do uso do gerúndio.

O decreto de Arruda foi publicado numa página do Diário Oficial dedicada aos atos administrativos. Veio logo depois de um que altera outro decreto, de abril deste ano, que trata da limitação de empenho e de movimentação financeira, e estabelece a programação orçamentária e financeira e o cronograma mensal de desembolso, do Poder Executivo em 2007.

Não foi a primeira vez que Arruda tomou uma decisão polêmica. Em janeiro, para cortar gastos, reuniu todas as secretarias no antigo refeitório de um quartel da Polícia Militar e mandou derrubar as paredes que separavam as salas.