Título: Tesouro deve abrir mão de R$ 8 bi em favor do BNDES
Autor: Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/11/2007, Economia, p. B3

Segundo ministro, dinheiro engordará o orçamento do banco para 2008, que hoje tem um buraco de R$ 30 bi

Com caixa reforçado pelo aumento da arrecadação, o governo deverá autorizar o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a ficar com R$ 8 bilhões de dividendos que teriam de ser repassados ao Tesouro Nacional. A medida, segundo o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, visa a ampliar a capacidade do BNDES de emprestar às empresas no ano que vem e estimular novos investimentos.

Por determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a equipe econômica deve encontrar, até o fim do ano, mecanismos para ampliar o orçamento do banco para 2008. Os dividendos são referentes ao lucro do banco em 2006 e ao estimado para 2007. Em troca, o BNDES poderá pagar uma remuneração ao Tesouro para ter o dinheiro.

Segundo Bernardo, o governo autorizou o banco a ¿sobrestar¿ (suspender) por um ano o pagamento dos dividendos de 2006, que teriam de ser repassados em 2007. O ministro deixou claro que a operação ainda depende da prorrogação da CPMF. ¿Se perdermos receitas muito importantes, não poderemos abrir mão desse dinheiro.¿

Além dos dividendos, o governo estuda a formação de um fundo em dólares para o BNDES financiar suas operações no exterior. Bernardo afirmou que a criação desse fundo é uma ¿necessidade¿. O ministro ponderou que o BNDES tem hoje uma atividade grande de suporte para as empresas brasileiras, financiando a exportação - o banco empresta aos compradores de produtos e serviço brasileiros - e a incorporação e aquisição de ativos no exterior.

Segundo o ministro, esse fundo internacional iria ajudar a compor o orçamento do banco de 2008, que hoje tem um ¿hiato¿ que precisa ser coberto. O banco financiará este ano R$ 63 bilhões e já tem previsão de demanda de R$ 80 bilhões para 2008. O problema é que o orçamento do banco para 2008 é de R$ 50 bilhões.

¿Temos de fazer um grande esforço para reforçar o funding do BNDES¿, disse Bernardo. A criação desse fundo é um pedido particular do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, ao presidente Lula. Coutinho tem sido um interlocutor cada vez mais freqüente do presidente e tem passado parte da semana em Brasília na articulação das medidas para ¿bombar¿ o caixa do banco em 2008, segundo fontes ouvidas pelo Estado.

Ele tem insistido na avaliação de que as reservas estão altas, o que daria margem para o governo utilizar o excesso de dólares comprado pelo Banco Central (BC) no mercado de câmbio.

A formação do fundo com esses dólares, que hoje reforçam as reservas, tem provocado ruído no mercado financeiro no momento em que o governo anunciou estudos para criar um fundo soberano. A intenção do presidente do BNDES era de que os dólares do fundo soberano servissem para financiar as suas operações no exterior. Como a reação do mercado tem sido negativa pelas implicações da medida no câmbio, já se fala na criação de outro fundo, exclusivamente para atender o BNDES. Mas ainda não há definição.

Cauteloso, Bernardo evita dar detalhes sobre a parte técnica do fundo, mas destaca que sua formação não exclui futuras captações diretas do banco no exterior.

NÚMEROS

R$ 50 bilhões é o orçamento projetado para o BNDES em 2008

R$ 80 bilhões é a estimativa de demanda de recursos do BNDES por parte das empresas brasileiras no ano que vem

R$ 63 bilhões é o montante que o BNDES deve desembolsar em empréstimos neste ano

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