Título: Copom indica que taxa Selic vai demorar a cair
Autor: Lu Aiko Otta
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/12/2007, Economia, p. B3

Na ata divulgada ontem, BC vê aumento dos riscos de alta da inflação e não fala mais em `pausa¿ no corte

As taxas de juros não voltam a cair tão cedo. Essa é a leitura que economistas fazem da ata da reunião de dezembro do Comitê de Política Monetária (Copom), em que a taxa Selic foi mantida em 11,25% ao ano. O texto, divulgado ontem, avalia que aumentaram os riscos de alta da inflação por causa do forte crescimento do consumo, da subida do petróleo no mercado internacional, da elevação do preço dos alimentos no mercado global e da expansão de gastos do setor público. E não fala mais em ¿pausa¿ no processo de corte nos juros.

Isso foi interpretado por economistas como um sinal de que as taxas ficarão estacionadas por um bom tempo. As apostas variam de alguns poucos meses até o ano de 2008 inteiro. Além disso, o documento trouxe um alerta que não constava da ata da reunião imediatamente anterior do Copom.

Diz que, se houver uma mudança nos fatores de risco sobre a inflação, ¿a estratégia de política monetária será prontamente adequada às circunstâncias¿. Embora pareça algo óbvio, a inclusão desse trecho não passou despercebida pelos analistas. ¿Veio numa ata onde o que se discute é a piora no balanço de riscos¿, notou o economista-chefe da corretora Convenção, Fernando Montero. ¿Fica em aberto para qualquer coisa¿, comentou a economista Marcela Prada, da Tendências Consultoria Integrada.

Eles não acham, porém, que as taxas vão voltar a subir de imediato. ¿A probabilidade não é de 60%, mas certamente também não é de 6%¿, disse Montero. ¿Quer dizer que o risco de alta dos juros não é zero.¿ Marcela Prada lembrou que esse trecho já constou de atas anteriores.

Teria voltado porque, dessa vez, as dúvidas do Banco Central aumentaram. ¿É um momento de muita incerteza¿, disse Montero. Ele comparou o texto da ata divulgada ontem ao documento imediatamente anterior, no qual os juros também foram mantidos em 11,25%, e concluiu que o texto se tornou mais pessimista. ¿Onde o texto poderia piorar, piorou.¿

Na ata, o principal foco de preocupação do Banco Central continua a ser o crescimento do consumo a um ritmo mais forte do que a expansão da produção industrial. O documento avalia que, embora as indústrias estejam investindo, ainda há risco de haver pressões sobre a inflação.

Prova disso é que, em outubro, a utilização da capacidade instalada da indústria atingiu o recorde de 83,1%, segundo levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

PIB E CPMF

O documento não incorpora na sua análise dois fatores recentes que podem ter grande influência na formação das expectativas de inflação, mas se tornaram conhecidos depois da reunião do Copom - a forte aceleração do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, divulgada nesta semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e a derrubada da CPMF, na madrugada de ontem, pelo Senado.

A crise financeira internacional continua a ser uma fonte de incerteza, segundo a ata. O mesmo se aplica à cotação do petróleo. O governo manteve sua expectativa de que não será necessário elevar o preço da gasolina e do gás de cozinha, porém alertou que a inflação poderá ser afetada pelo aumento dos preços na indústria petroquímica.

Além disso, os diretores do BC ponderam, na ata, que a economia ainda não sentiu totalmente os efeitos dos cortes de juros ocorridos nos últimos nove meses. Ou seja, as reduções ainda podem provocar efeitos em termos de aumento de consumo e atividade econômica que não são conhecidos.

MAIOR PESSIMISMO

Trechos da ata da reunião de dezembro do Copom

Indústria próxima ao gargalo ¿A redução da capacidade ociosa manifesta-se em diversos setores e ocorre a despeito do aumento substancial do volume de investimentos¿

¿Cabe enfatizar, como assinalado em notas anteriores das reuniões do Copom, que a trajetória da inflação mantém estreita relação com os desenvolvimentos correntes e prospectivos no tocante à ampliação da oferta de bens e serviços para o adequado atendimento à demanda¿

Mundo perigoso

¿No que se refere ao cenário externo, permanece um quadro de elevada incerteza, em particular no que concerne aos efeitos da crise no segmento de alto risco do setor imobiliário dos Estados Unidos da América (EUA) sobre a atividade econômica global, bem como sobre os próprios mercados financeiros internacionais¿

¿O preço do petróleo, fonte sistemática de incerteza advinda do cenário internacional, permanece não apenas em patamares historicamente elevados, mas continua apresentando alta volatilidade¿

¿A volatilidade dos preços de outras commodities também tem sido relativamente elevada nos últimos meses (...). Nesse contexto, deve-se destacar também a forte aceleração no preço dos alimentos que vem sendo observada em vários países, que tem dificultado o controle da inflação por parte de diversos bancos centrais¿

Inflação em alta

¿Desde a reunião de outubro do Copom, houve pequenoincremento na mediana das expectativas coletadas pela Gerência-Executiva de Relacionamento com Investidores (Gerin) para a variação do IPCA em 2007, que passou de 3,91% para 3,96%. Essa elevação deve-se à incorporação da inflação de outubro e ao aumento da inflação esperada, pelos analistas, para dezembro¿

¿Por outro lado, verificou-se elevação relevante da inflação tanto em economias maduras quanto emergentes nos últimos meses, evidenciando a intensificação de riscos inflacionários em escala global¿

¿O Copom avalia que se elevou a probabilidade de que a emergência de pressões inflacionárias inicialmente localizadas venha a apresentar riscos para a trajetória da inflação doméstica¿

Momento de cautela

¿O Copom considera que a persistência de uma atuação cautelosa da política monetária tem sido fundamental para aumentar a probabilidade de que a inflação siga evoluindo segundo a trajetória de metas¿

¿A prudência passa a ter papel ainda mais importante, dentro desse processo, em momentos como o atual, nos quais a deterioração do balanço dos riscos inflacionários reduz sensivelmente a margem de segurança da política monetária¿

¿Na eventualidade de se verificar modificação no perfil de riscos que implique alteração do cenário prospectivo traçado para a inflação, neste momento, pelo Comitê, a estratégia de política monetária será prontamente adequada às circunstâncias¿

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