Título: Lupi acusa Marcílio de agir em defesa de interesses privados
Autor: Dantas, Pedro
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/12/2007, Nacional, p. A6

Planalto não deve forçar ministro do Trabalho a se afastar da presidência do PDT, como quer Comissão de Ética

O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, disse ontem que está sendo vítima de ¿linchamento público por ser presidente de um partido¿. Ele atacou o conselheiro da Comissão de Ética Pública, o ex-ministro Marcílio Marques Moreira, que divulgou parecer recomendando ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva o afastamento de Lupi da pasta ou da presidência do PDT, cargos que acumula desde abril.

¿Que interesses estão por trás do conselheiro Marcílio? Ele não é só conselheiro da Comissão de Ética. Quero saber quem está ferindo a ética, pois eu não pertenço a nenhum conselho particular ou grupo privado¿, afirmou o ministro em São Gonçalo, no Grande Rio.

A decisão de recomendar a demissão de Lupi havia sido tomada na sexta-feira e foi oficializada anteontem, em Brasília. Antes de fechar questão sobre a necessidade da saída do ministro, integrantes da Comissão de Ética Pública já haviam recomendado que Lupi deixasse a presidência nacional do PDT para evitar o conflito entre o cargo de ministro e o posto no partido. Como Lupi não respondeu à comissão - depois do prazo de 20 dias que terminou no dia 20 -, o órgão decidiu recomendar a demissão a Lula.

Sobre o preenchimento de cargos nas delegacias regionais do Trabalho com integrantes do PDT, o ministro se defendeu afirmando que não é uma prática nova. ¿E daí? Será que só o PDT tem cargos nos governos federal, estadual e municipal? Será que no governo de Fernando Henrique Cardoso o PSDB não tinha suas ocupações naturais e legítimas, eleitas pelo povo? Gente, vocês estão querendo criminalizar a política. Isso é um absurdo¿, afirmou Lupi, que participou da assinatura de um convênio com a Prefeitura de São Gonçalo para a abertura de cursos profissionalizantes.

As declarações de Lupi sobre o presidente da Comissão de Ética Pública foram endossadas no final da tarde por diversas centrais sindicais, que voltaram a acusar Marcílio de agir em defesa de interesses privados. Em nota, Força Sindical, UGT, Nova Central Sindical e CNTM justificaram a alegação pelo fato de o ex-ministro pertencer ao conselho de administração da American Bank Note, empresa que mantém contrato com o governo para o fornecimento de carteiras de trabalho.

As entidades o acusam de recomendar a demissão de Lupi pelo fato de o ministro pretender modernizar o documento, por meio da substituição por um cartão. ¿Cabe aqui um questionamento: está o sr. Marcílio, com essa postura e currículo, habilitado a fazer questionamentos éticos?¿, diz a nota.

O presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho, acrescentou que a entidade considera ¿inaceitável¿ o fato de alguém com o perfil de Marcílio comandar a comissão. ¿É uma vergonha o presidente da Comissão de Ética Pública fazer lobby descaradamente em favor de uma empresa¿, afirmou.

DOR DE CABEÇA

Lula está disposto a manter Lupi no ministério, ignorando os apelos da Comissão de Ética Pública. Não é só: o presidente ficou aborrecido com a publicidade que a comissão deu ao caso quando alegou que Lupi não pode acumular o cargo de ministro com a presidência do PDT.

A queda-de-braço promete provocar mais dor de cabeça ao Palácio do Planalto no início de 2008, porque nenhum dos lados arreda pé de suas posições. Auxiliares do presidente estranham que a Comissão de Ética Pública tenha feito estardalhaço com o assunto envolvendo Lupi. Alegam que os casos sob análise dessa instância, vinculada à Presidência da República, devem tramitar em sigilo, como estabelece o decreto que a criou, em 1999, no governo Fernando Henrique Cardoso.

Ao responder a uma consulta feita por Lupi, a Advocacia-Geral da União (AGU) recomendou à Comissão de Ética Pública que suspendesse o processo até o parecer final dos advogados da União, em janeiro. A sugestão não foi aceita, fato que provocou contrariedade no governo. Mas o Planalto também não gostou da reação de Lupi, que disse sofrer ¿perseguição¿ por parte de Marcílio. Assessores do presidente acham que tanto a comissão quanto o ministro ¿extrapolaram¿.

O parecer final da AGU deve sair no fim de janeiro e a tendência é que a conclusão seja mantida: não haveria incompatibilidade no exercício simultâneo das funções de ministro e de presidente do PDT. COLABORARAM CLARISSA OLIVEIRA e VERA ROSA

FRASES

Carlos Lupi Ministro do Trabalho

¿Que interesses estão por trás do conselheiro Marcílio? Ele não é só conselheiro da Comissão de Ética. Quero saber quem está ferindo a ética, pois eu não pertenço a nenhum conselho particular ou grupo privado¿

Paulo Pereira da Silva Presidente da Força Sindical

¿É uma vergonha o presidente da Comissão de Ética Pública fazer lobby descaradamente em favor de uma empresa¿

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