Título: Irmão de Daniel se refugiou por opção pessoal, reage Carvalho
Autor: Oliveira, Clarissa ;Tosta , Wilson
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/01/2008, Nacional, p. A8

Chefe de gabinete de Lula nega acusações e afirma que, na época do crime, havia 10 anos que Bruno e a mulher não falavam com prefeito, além de terem ficado à margem dos fatos

O chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, disse ontem que a decisão de Bruno Daniel de buscar asilo político na França ¿é resultado de uma opção pessoal¿. Irmão do prefeito assassinado de Santo André Celso Daniel, Bruno relatou ao Estado sua condição de refugiado político e contou que ele e a família têm vontade de retornar ao Brasil. ¿Somos um País democrático, com todas as instituições funcionando em plena normalidade. Sua volta ao Brasil é bem-vinda¿, declarou o assessor do presidente.

Na entrevista, Bruno disse que o assessor de Lula nunca fez ¿nada de concreto¿ para elucidar o crime, apesar de ter se comprometido nesse sentido. E voltou a dizer que Carvalho teria transportado dinheiro de um esquema de financiamento de campanha para o então presidente do PT, José Dirceu. Procurado, Carvalho aceitou responder a perguntas do Estado por e-mail (leia ao lado a íntegra da nota).

A avaliação contradiz a posição da viúva do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, Maria Nakano. Irmã da esposa de Bruno Daniel, Marilena Nakano, ela diz que a insistência do casal em investigar motivações do crime provocou ameaças, inclusive contra seus três filhos. E disse ter dificuldade para explicar a situação: na democracia e sob um governo de esquerda, uma família precisa viver fora de seu país. ¿É tão absurdo que não dá para explicar.¿

A tese é compartilhada pelo advogado Hélio Bicudo, que ajudou Bruno Daniel a obter o asilo na França. ¿Eles foram perseguidos no Brasil e o Estado francês reconheceu isso¿, afirma o jurista, que irá hoje à Câmara Municipal de Santo André para ler uma carta de Bruno e sua esposa endereçada à presidente do Supremo Tribunal Federal, Ellen Gracie. No texto, o casal pede que seja derrubada uma solicitação do empresário denunciado no caso, Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, que contesta o direito do Ministério Público Estadual de investigar o caso.

ÍNTEGRA

1) Desde o dia do seqüestro e bárbaro assassinato de Celso Daniel fomos nós, seus companheiros de trabalho, quem cuidamos de tudo, do sepultamento ao acompanhamento diário do andamento das investigações. Ressalte-se que havia dez anos que Celso não falava com o irmão Bruno e sua cunhada, que permaneceram à margem dos acontecimentos. Receberam então de nós as informações que podíamos obter sobre o andamento das investigações e todo apoio pessoal;

2)Na mesma semana da morte de Celso Daniel, o então presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, foi à Brasília pedir ao então presidente Fernando Henrique Cardoso que a Polícia Federal participasse das investigações para que fossem as mais eficazes e imparciais. Delegados da Polícia Federal de fato passaram a acompanhar o caso desde então;

3)O primeiro inquérito foi conduzido pela Polícia Civil de São Paulo, Estado governado então por Geraldo Alckmin, do PSDB, e concluiu que se tratara de crime comum. Os autores foram presos;

4)Não satisfeitos com os resultados, familiares de Celso Daniel fizeram um movimento para que novo inquérito fosse realizado. O governo de São Paulo determinou a abertura de nova investigação, chefiada pela delegada Elizabeth Saito, escolhida pelo então secretário de Segurança Pública do Estado. O segundo inquérito apontou na mesma direção do primeiro: crime comum;

5)Quanto à acusação feita a mim pelo sr. João Francisco Daniel e depois corroborada pelo sr. Bruno, todos sabem que foi objeto de análise de uma CPI, à qual compareci em duas oportunidades, sendo que numa delas houve acareação entre mim e estes senhores. Não sofri nenhum indiciamento pela CPI, nem há qualquer processo contra mim. Ressalte-se ainda que, chamado a confirmar essa acusação, o sr. João Francisco Daniel se retratou em juízo;

6)A permanência do sr. Bruno Daniel e família na França é resultado de uma opção pessoal. Somos um País democrático, com todas as instituições funcionando em plena normalidade. Sua volta ao Brasil é bem-vinda.

Gilberto Carvalho, chefe do Gabinete Pessoal da Presidência da República.