Título: Sob ameaça de recessão, Davos prepara debates
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/01/2008, Economia, p. B7

Para a entidade, o ano de 2008 deverá ser o de maior incerteza - política e econômica - da última década

Num cenário de eventual recessão nos Estados Unidos e turbulências globais, o Fórum Econômico Mundial faz na próxima semana a sua reunião anual na estação de esqui de Davos, na Suíça. Para a entidade, 2008 deverá ser o ano de maiores incertezas econômicas e políticas desta década.

O encontro, que ocorre todos os anos desde a década de 70, está agendado para os dias 23 a 27 deste mês. O clima deverá ser bastante diferente do de 2007. Nesse ano, o otimismo reinava e as projeções levavam a ter confiança no crescimento econômico mundial.

Klaus Schwab, fundador e presidente da Fórum, ainda se recusa a falar de recessão. ¿As projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) indicam que o crescimento mundial passará de 5% em 2007 para 3,5% em 2008. Isso ainda não é uma recessão, e não quero ser exageradamente pessimista.¿

Ele admite, porém, que os debates neste ano em Davos serão pautados pelo desafio da crise e os riscos da volta da inflação. Segundo ele, os alertas sobre os riscos para a economia foram dados no ano passado. ¿Ouviu quem quis¿, disse ele.

O relatório sobre os riscos no cenário internacional produzido pelo próprio Fórum para servir de base às discussões já mostra que o clima não é de festa. O estudo destaca que os riscos financeiros nos Estados Unidos podem, de fato, levar a uma recessão. O diretor do Fórum, Richard Samans, também faz o mesmo alerta diante dos números apresentados pela economia americana.

Davos, portanto, aponta para a necessidade de um novo pensamento sobre os mecanismos financeiros para evitar crises como a do subprime. A situação internacional ainda recoloca na agenda a questão da vulnerabilidade das economias. Outra questão é até que ponto as novas economias emergentes, como China e Brasil, poderão se tornar verdadeiros motores do crescimento mundial.

Um dos encontros em Davos será dedicado a debater o papel dos bancos centrais (BCs) na injeção de recursos no mercado para evitar a crise. Henrique Meirelles, presidente do BC brasileiro, fará parte do debate, ao lado de Jean Claude Trichet, presidente do BC Europeu.

O chanceler Celso Amorim debaterá os riscos da volta do protecionismo comercial. Personalidades como John Snow e o acadêmico de Harvard Kenneth Rogoff também debaterão a crise internacional e a ¿insegurança econômica¿.

Para o Fórum, a atual turbulência está demonstrando que as economias latino-americanas estão em novo estágio de desenvolvimento. Emilio Lazoya, especialista em América Latina no Fórum, acredita que a região será afetada em 2008 por uma eventual recessão americana. Mas destaca que a crise já teria sido bem maior se a região estivesse com os mesmos padrões de estabilidade financeira dos anos 90.

Outro tema central em Davos será a capacidade da inovação e da colaboração para a superação de obstáculos.

Cerca de 2,5 mil pessoas de 88 países estão sendo esperadas para o evento, incluindo 27 chefes de Estado, 113 ministros e 74 das 100 maiores empresas do mundo. Entre as personalidades que estarão em Davos estão a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, o presidente de Israel, Shimon Peres, o premier britânico, Gordon Brown, além de Tony Blair, Henry Kissinger, Bill Gates, o cantor Bono, a atriz Emma Thompson e o escritor Paulo Coelho.