Título: Crime de SP imita modelo do Rio e investe no carnaval
Autor: Nunomura, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/01/2008, Metrópole, p. C6

Somados, recursos da Prefeitura, TVs e bilheteria costumam bancar só 1/4 do custos dos desfiles

Eduardo Nunomura

A tesouraria de uma escola de samba em São Paulo é como uma caixa-preta. Só em caso de acidente se saberá o que há lá dentro. A piada repetida por um sambista descontente com os rumos do carnaval paulistano indica o grau de obscuridade quando o assunto é dinheiro. O que as agremiações recebem de verba oficial da Prefeitura, direito de transmissão de imagem e bilheteria do Sambódromo em alguns casos banca só um quarto dos custos do desfile. O resto vem de patrocínios, venda de fantasias e cobrança para assistir aos ensaios. O Ministério Público paulista adverte: o crime está usando cada vez mais a maior festa popular do País para lavar dinheiro.

Segundo a promotoria criminal, o Primeiro Comando da Capital (PCC) já estaria infiltrado em pelo menos três agremiações. Traficantes perceberam que uma escola de samba serve para lavar dinheiro, inflando números de atividades não fiscalizadas. E ainda ampliam seus contatos com a comunidade por meio de projetos sociais. Um militante do samba resume: ¿Estamos copiando o Rio em tudo, inclusive abrindo espaço para o crime, e as escolas sabem disso.¿ Nos barracões, ninguém comenta o assunto.

No mês passado, presidentes de nove escolas de samba da capital foram a Brasília pedir direitos iguais do governo federal. A Petrobrás destinou R$ 6 milhões para o carnaval do Rio - havia prometido o dobro. Uma das justificativas era livrar a festa das más influências: jogo do bicho antes, tráfico de drogas hoje. Os sambistas paulistanos ficaram revoltados com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. ¿Ninguém mais está livre dos riscos (das más influências), mas Lula não tem noção do carnaval de São Paulo¿, afirma Angelina Basílio, presidente da Rosas de Ouro. ¿A justificativa é para que não se usasse dinheiro do tráfico. Não vamos por esse mérito, mas com mais dinheiro poderíamos ampliar projetos sociais¿, protesta Solange Bichara Rezende, presidente da Mocidade Alegre.

A Unidos de Vila Maria diz gastar R$ 150 mil para prestar serviços sociais, como dentista, médico, psicólogo, futebol e cursos variados (informática, cinema, inglês). Parte das atividades já é subsidiada com dinheiro federal. Ainda assim, diz o vice-presidente Valter Belo, se recebesse mais recursos a escola poderia ampliar a ajuda social.

Uma escola de samba não desfila com menos de R$ 1,5 milhão, afirma o presidente da SP Turismo, Caio Luiz de Carvalho. O órgão organiza a festa e distribui R$ 460 mil para cada escola do Grupo Especial ou R$ 260 mil do Grupo de Acesso. A bilheteria rende cerca de R$ 150 mil para cada agremiação e a Rede Globo, R$ 200 mil. ¿Se fosse acompanhar o crescimento do carnaval de São Paulo, os valores seriam estratosféricos¿, diz. Segundo a empresa, a Prefeitura investirá R$ 19 milhões neste carnaval, e a cidade deverá ganhar mais de R$ 40 milhões.

A Império da Casa Verde, tida como a mais luxuosa, gasta mais de R$ 3 milhões num desfile. Como outras escolas, justifica os gastos adicionais com atividades ao longo do ano, como minishows, vendas de fantasias (neste ano chegam até a R$ 700) e ensaios. Na quarta-feira, a Rosas de Ouro recebeu mais de 5 mil pessoas e cobrou R$ 15 de 2 mil delas. Outras escolas cobram menos.

Links Patrocinados