Título: Linera veio negociar acordo que evita sanções em caso de corte, diz jornal
Autor: Marin, Denise Chrispim ; Goy, Leonardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/02/2008, Economia, p. B4

O vice-presidente boliviano, Álvaro García Linera, veio ao Brasil para tentar evitar sanções em caso de redução da oferta de gás natural para o mercado nacional. A informação foi publicada ontem no diário La Prensa, de La Paz. A Bolívia prevê problemas em garantir o fornecimento no período de inverno, quando o consumo argentino cresce e demanda o volume total de 7,7 milhões de metros cúbicos por dia. Hoje, a Argentina recebe cerca de 4 milhões de metros cúbicos por causa da estagnação da produção boliviana pós-nacionalização, ocorrida em 2006.

O ministro boliviano de Hidrocarbonetos, Carlos Villegas, disse ao La Prensa que o objetivo era fechar um acordo entre os três países e evitar sanções do Brasil caso o volume de gás tenha de ser reduzido. Ele acredita que a costura de um acordo prévio pode evitar punições por não cumprimento integral do contrato. Hoje, o Brasil recebe o limite do contrato, 30 milhões de m³, metade da demanda nacional do insumo.

O diário diz que Villegas já teria obtido um compromisso semelhante da Enarsa (a estatal petroleira da Argentina) para evitar sanções. ¿Neste momento, a preocupação é como ajustar a necessidade energética, especialmente em momentos de maior demanda, como o inverno¿, disse ao La Prensa. Villegas disse por fim que viria ao Brasil com a confiança de que obteria das autoridades brasileiras a mesma ¿boa predisposição da Enarsa¿.

A produção de gás na Bolívia não consegue mais atender à demanda. Segundo o diretor da Câmara Boliviana de Hidrocarbonetos (CBH), organização das petroleiras, Yussef Akly, a produção diária está próxima de 40 milhões de metros cúbicos, volume que é atualmente manobrado pela estatal boliviana YPFB para atender ao Brasil, à Argentina e ao mercado interno.

A situação pode piorar. A Bolívia assinou um contrato com a Argentina para elevar a venda de 7,7 milhões de m³ para 27,7 milhões de m³ por dia. Para isso, a CBH aponta a necessidade de investimentos de aproximadamente US$ 7 bilhões nos próximos anos. O contrato prevê o envio desse volume de gás em 2010. Só para a perfuração e instalação de equipamentos para a produção dos dois megacampos Margarita e Itau, a Bolívia precisa receber US$ 1,8 bilhão em investimentos.

Outro problema é a criação de um novo gasoduto para o escoamento do gás para o território argentino. Segundo Akly, tem demorado as providências dos países para que se cumpra o prazo definido no contrato. ¿Evo (Morales) e Cristina Kirchner abriram a licitação para os dutos, mas ainda tem todo o processo de licenciamento ambiental, obtenção dos financiamentos e a construção. Está demorando tudo isso.¿ A CBH fez um alerta recentemente sobre as indefinições do marco regulatório, mesmo depois de revistos os contratos. Isso tem retardado a reativação dos investimentos no setor petroleiro.

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