Título: Brasil busca petrodólares dos países do Golfo
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/02/2008, Economia, p. B5

Região vira prioridade do Itamaraty em acordo de comércio e receberá a visita de Lula pela terceira vez

Em busca de um mercado superaquecido pelos petrodólares, o Brasil assina nos próximos meses acordo comercial com os países do Golfo Pérsico, bloco formado por Arábia Saudita, Kuwait, Emirados Árabes Unidos, Catar e Omã.

Governo e empresas brasileiras querem a região como uma das prioridades em 2008. Em apenas um ano, o número de brasileiros em Dubai, nos Emirados, triplicou e hotéis ainda querem trazer trabalhadores do País para empregos que vão de gerente a cozinheiro. Hoje, já são 1.000 vivendo ali.

Nesta semana, o chanceler Celso Amorim deverá ir a Riad, na Arábia Saudita, o principal país da região. A aproximação comercial deve fazer parte da agenda do ministro. ¿Estamos chegando por último aqui¿, comenta o embaixador do Brasil nos Emirados, Flávio Sapha.

Segundo ele, apesar da chegada tardia, o País tem condições de ganhar mercado. O acordo entre o Mercosul e a região pode ser um impulso importante. ¿O acordo comercial entre o Mercosul e a região está praticamente concluído¿, revelou. Faltaria apenas um acerto sobre os prazos de desgravação tarifária para setores sensíveis. Um deles é a área de petroquímica brasileira, que não esconde o temor de que os termos de um acordo com os árabes possa ser prejudicial às empresas nacionais diante da queda de tarifas de importação no setor.

Em 2007, a corrente comercial entre países árabes e o Brasil somou US$ 13,5 bilhões e a região é a que mais cresce em termos porcentuais para as vendas nacionais. Não por acaso, o presidente Lula planeja sua terceira visita ao Oriente Médio ainda este ano. Os governadores do Rio, Sérgio Cabral, e de Minas, Aécio Neves, também organizam visitas oficiais com delegações de empresários.

Há vários setores interessados. No mercado financeiro, o Itaú promoveu recentemente evento em Dubai para atrair investidores dos Emirados para o Brasil. Para isso, levou a Petrobrás, a BR Malls - gerente de shoppings - e a Gafisa.

VAGAS

Há também quem queira aproveitar a falta de mão-de-obra nos Emirados para enviar brasileiros para trabalhar. Para o hotel sete estrelas Burj Al Arab, uma agência de empregos oferece 52 vagas para brasileiros em postos de garçom, com salário de US$ 400 por mês, menos da metade da diária mais barata do hotel, que sai por US$ 1 mil. O recrutamento ocorre em Porto Alegre, São Paulo e Fortaleza este mês.

Dois terços do comércio com os árabes é pautado por produtos agrícolas. No próximo mês, o Brasil enviará um número recorde de empresas para participar de feira de alimentos. Diplomatas contam também que estão sendo procurados por investidores árabes para comprar frigoríficos no Brasil.

A venda de carne bovina dobrou entre 2006 e 2007, com mais de US$ 70 milhões só para os Emirados. Há dois anos, as vendas praticamente não existiam. Hoje, o País domina 65% do mercado. A mesma estratégia está sendo elaborada para o setor de frutas. Hoje, os europeus compram o produto nacional e revendem ao Oriente Médio. O resultado é uma exportação direta do Brasil de só US$ 15 milhões por ano.

A Marcopolo chegou a vender 1,1 mil ônibus por ano ao Oriente Médio. Com a valorização do real, perdeu competitividade e vendeu só 70 em 2007. Mas a empresa decidiu manter seu escritório, esperando por dias melhores e mantendo o fornecimento de peças e manutenção aos ônibus na região.