Título: Líder do Hezbollah jura vingança e declara guerra contra Israel
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Fonte: O Estado de São Paulo, 15/02/2008, Internacional, p. A13

Nasrallah faz discurso durante enterro de comandante morto na Síria; outra cerimônia lembra atentado contra Hariri

Beirute

O líder do Hezbollah, xeque Hassan Nasrallah, disse ontem que seu grupo xiita libanês está pronto para ¿uma guerra aberta¿ com Israel. Nasrallah fez a ameaça diante de dezenas de milhares de pessoas que foram ao funeral em Beirute de Imad Mughniyeh, um importante comandante do Hezbollah morto em um atentado a bomba na terça-feira à noite na Síria.

Havia uma grande tensão ontem na capital libanesa, onde, além do enterro de Mughniyeh, outras dezenas de milhares de pessoas foram a uma cerimônia pelo terceiro aniversário do assassinato do ex-primeiro-ministro Rafic Hariri, em 14 de fevereiro de 2005. Os dois eventos foram realizados em um momento potencialmente explosivo, por causa da crise política entre a coalizão governista e a oposição. As forças de segurança foram postas em alerta diante do temor de confrontos entre os partidários do Hezbollah, pró-Síria, e os de Hariri, anti-Síria, apesar de os dois eventos terem sido realizados a mais de 8 quilômetros de distância.

Em um de seus discursos mais beligerantes dos últimos meses, que foi transmitido em um telão durante o funeral, Nasrallah disse que ¿Israel iniciou a guerra com o Hezbollah fora do Líbano, e o Hezbollah está agora preparado para continuá-la lá¿.

¿Hoje, o Hezbollah e o Exército de Resistência Islâmica estão preparados para confrontar qualquer agressão no Líbano¿, disse Nasrallah. ¿Vocês mataram fora do campo de batalha. Nosso campo de batalha era o território libanês. Vocês cruzaram as fronteiras. Sionistas, se vocês querem uma guerra aberta, vamos ter uma guerra aberta em qualquer lugar.¿

Israel, que travou 34 dias de guerra com o Hezbollah em meados de 2006, negou qualquer envolvimento no assassinato de Mughniyeh, mas funcionários militares foram mais vagos, sem negar ou confirmar o atentado. Após a ameaça de Nasrallah, Israel ordenou a seu Exército e embaixadas que permaneçam em alerta, assim como as instituições judaicas no mundo todo. O governo israelense também ordenou o aumento das tropas ao longo de sua fronteira com o Líbano.

¿Não há dúvida de que o Hezbollah e seus mestres iranianos, que tinham excelentes relações com Mughniyeh, vão querer se vingar¿, disse o analista militar Yossi Melman ao jornal Haaretz. ¿E essa vingança não será necessariamente imediata.¿

A guerra de 2006 entre Israel e o Hezbollah começou depois que o grupo xiita capturou dois soldados israelenses. O Hezbollah bombardeou o norte de Israel com mais de 4 mil foguetes Katyusha durante a guerra, mas Israel destruiu boa parte do arsenal do grupo libanês e matou centenas de seus combatentes. Os confrontos deixaram mais de mil mortos do lado libanês e cerca de 150 do israelense.

Temendo ser morto por Israel, Nasrallah está escondido desde 2006 e fez apenas três aparições públicas.

HARIRI

Saad Hariri, filho do ex-primeiro-ministro assassinado, pediu ontem reconciliação aos partidos de oposição, no terceiro aniversário do atentado, que levou à saída das forças sírias do Líbano e aprofundou a crise política que agora paralisa o país.

¿Nossa mão está estendida e permanecerá estendida, não importam as dificuldades¿, disse Saad Hariri à oposição. Ela é liderada pelo Hezbollah e apoiada pela Síria, acusada pelo assassinato do ex-premiê Hariri. A oposição e o governo travam há 15 meses uma luta pelo poder que paralisou o governo, deixando o país sem um presidente desde novembro. Os dois lados concordam com a nomeação do general Michel Suleiman como presidente. Mas sua eleição pelo Parlamento foi adiada diversas vezes por causa de uma disputa sobre as vagas no novo gabinete. AP, REUTERS E NYT

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