Título: Lula adia viagem para cobrar Orçamento
Autor: Rosa, Vera; Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2008, Nacional, p. A6

Presidente cancela visita ao Tocantins e antecipa para hoje reunião com conselho político, a fim de tentar saída para impasse no Congresso

Preocupado com a novela em que se transformou a votação do Orçamento da União, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva antecipou para hoje a reunião com o conselho político do governo, na tentativa de encontrar solução para o impasse, e cancelou a viagem que faria à tarde a Palmas (TO). Com receio de que o atraso paralise as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) neste ano eleitoral, Lula cobrou empenho da base aliada para que o Orçamento seja aprovado amanhã no Congresso.

Ouça o Café com o Presidente

Em várias reuniões ao longo do dia para tratar do assunto, ele disse que, se o Orçamento não for votado, terá de usar uma enxurrada de medidas provisórias para garantir a execução dos projetos. No programa de rádio Café com o Presidente, deu uma estocada nos deputados e senadores, em seu estilo de mandar recado pelas entrelinhas. Ao destacar que essa votação ¿é uma questão de responsabilidade com o País¿, Lula deixou clara sua insatisfação.

¿Não posso crer que apenas eu queira trabalhar e eles não¿, afirmou no rádio. ¿Que apenas eu queira fazer as obras, e eles não. É de interesse de todo mundo.¿ O presidente ilustrou seus argumentos com exemplos do dia-a-dia, ao lembrar que o dinheiro do Orçamento é necessário para tocar o PAC e as políticas de saúde e educação.

Foi na reunião de coordenação política do governo, ontem de manhã, que Lula decidiu cancelar a viagem a Palmas, onde se encontraria com o governador do Tocantins, Marcelo Miranda (PMDB), para a assinatura de acordos de construção de termoelétricas em Tocantinópolis e Nova Olinda. ¿A oposição não quer medida provisória nem votar o Orçamento. Desse jeito, pára o País¿, comentou o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, articulador político do governo.

MOVIMENTAÇÃO

O esforço para aprovar o Orçamento movimentou o Planalto. Ontem à noite, Lula chamou ao gabinete os líderes do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS), no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), e no Congresso, senadora Roseana Sarney (PMDB-MA), para tratar do assunto que hoje lhe causa mais dor de cabeça do que a CPI dos Cartões. Mais tarde, esteve com os dez senadores petistas por duas horas e pediu-lhes que ajudem a ¿acelerar¿ as votações do Orçamento e das medidas provisórias que trancam a pauta. Segundo Paulo Paim (RS), ele disse que é preciso ter mais ¿sintonia¿ entre o Planalto e o bloco de apoio ao governo.

O presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), reagiu à ¿pressão¿ governista. ¿Culpar e responsabilizar os parlamentares não vai resolver o problema¿, protestou, em resposta às críticas feitas por Lula no Café com o Presidente. ¿É muito fácil colocar a culpa nos outros.¿

Garibaldi surpreendeu o Planalto, de quem é aliado, ao engrossar o coro da oposição. Em tom de contrariedade, disse que o Orçamento não foi votado até agora porque ¿falta entendimento¿ entre os partidos da base. ¿É um problema político.¿

Na prática, os aliados não se entendem sobre a lista de obras de R$ 534 milhões do anexo de metas da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). ¿Mas não podemos deixar que a divergência paralise o Congresso¿, afirmou o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), ao garantir que o Orçamento será votado amanhã mesmo sem acordo entre governo e oposição.

Lula orientou os ministros a pressionarem parlamentares de seus partidos para a aprovação do Orçamento e vai reforçar o apelo hoje no conselho político, que reúne os 14 partidos da base. No encontro de ontem, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse-lhe que o governo estava em situação difícil com o impasse sobre o Orçamento, que deveria ter passado no Congresso no fim do ano.

Mesmo assim, o presidente avisou que pretende continuar viajando duas vezes por semana para inaugurar obras do PAC, sempre levando Dilma a tiracolo. Detalhe: a ministra é, até agora, o nome preferido de Lula para concorrer à sua sucessão, em 2010.