Título: De olho em herdeiro para 2010, Lula testa seis nomes dentro e fora do PT
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/02/2008, Nacional, p. A8

Dilma ainda é a favorita, mas presidente admite que lhe falta malícia política e avisa que não vai decidir este ano

Sem candidato natural do PT à sua sucessão, em 2010, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva só pretende entrar no jogo para ungir um herdeiro ¿a partir¿ do ano que vem. Antes, quer pôr à prova no mínimo seis nomes. O teste incluirá viagens pelo País ao lado do postulante e o exame de como cada um se comporta na defesa do governo.

Lula disse a auxiliares que não vai benzer ninguém agora. O comentário foi feito no início da semana, depois de ver os resultados da pesquisa CNT-Sensus, que mostra que sua popularidade ainda é intransferível.

O presidente observa o desempenho de possíveis candidatos não apenas na seara do PT, mas também em outros partidos da base aliada, como o PMDB e o PSB. Está bem impressionado, por exemplo, com a performance do deputado Ciro Gomes (PSB-CE), ex-ministro da Integração Nacional.

Nas simulações feitas até agora, Ciro perderia a eleição presidencial para o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), mas não faria feio. Além disso, no diagnóstico do Planalto, se a disputa com os tucanos for marcada por cruzados de direita, pode ser conveniente para Lula usar o estilo agressivo do ex-governador cearense.

Gerente do governo, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, é hoje a favorita do presidente nas fileiras do PT. Mas Lula admite que falta a ela mais malícia política. Para adquirir ¿jogo de cintura¿, Dilma chegou a ganhar um bambolê de dirigentes do PMDB, em janeiro, logo depois da posse do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão.

¿Estou treinando com o bambolê, mas até agora não adiantou nada¿, brincou a ministra, que é coordenadora do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), ao comentar com alguns amigos o entusiasmo pelas aulas de Pilates. Acompanhados de rigorosa dieta, os exercícios fizeram a chefe da Casa Civil emagrecer dez quilos nos últimos meses.

Apesar do aval de Lula e do regime político a que se impôs, com participações em diversas cerimônias populares, como a Festa da Uva - visitada por ela na quinta-feira, em Caxias do Sul (RS) -, Dilma não conta com apoio fechado do PT, partido ao qual se filiou apenas no fim de 1999, após passagem pelo PDT. Além dela, o presidente garantiu a auxiliares, na semana passada, que ainda examinará o potencial dos ministros Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), Marta Suplicy (Turismo) e Tarso Genro (Justiça).

DESIDRATAÇÃO

Na prática, porém, Lula quer mesmo que Marta seja candidata à Prefeitura de São Paulo na disputa deste ano. Para enquadrar os discípulos da ministra do Turismo e cortar suas asas, uma articulação de bastidores que passou pelo Planalto desidratou o time ¿martista¿ na montagem da Executiva Nacional do PT, eleita no início deste mês.

O movimento fortaleceu o grupo de Tarso, que conseguiu emplacar o deputado José Eduardo Martins Cardozo (SP) na secretaria-geral do partido. Os aliados de Marta queriam o deputado Jilmar Tatto (SP) no posto.

PEEMEDEBISTAS

Ao contrário de 1989, quando rejeitou o apoio do PMDB de Ulysses Guimarães no segundo turno da eleição presidencial e foi derrotado por Fernando Collor, o presidente faz, agora, constantes afagos ao partido. Os peemedebistas já conquistaram seis ministérios no governo.

Dependendo do andar da carruagem, Lula terá à sua disposição também um nome do PMDB para sua sucessão, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que não esconde a intenção de concorrer à Presidência. A todos com quem conversa, no entanto, Lula tem insistido em que não tomará nenhuma iniciativa este ano para não antecipar o fim do governo.

AÉCIO

A possibilidade de uma parceria entre o PT e o PSDB nas eleições para a Prefeitura de Belo Horizonte (MG) este ano também é um ingrediente importante nesse caldeirão. De olho na movimentação do governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), outro pré-candidato à Presidência, Lula acompanha com interesse a estratégia no segundo maior colégio eleitoral do País, depois de São Paulo.

Se o governador mineiro migrar do PSDB para o PMDB - na tentativa de evitar o confronto de vida ou morte com Serra pela candidatura tucana à Presidência -, o cenário sucessório virará de cabeça para baixo.

Embora Lula ache improvável essa mudança, não se cansa de repetir uma frase atribuída ao ex-governador de Minas José de Magalhães Pinto (1909-1996): ¿A política é como as nuvens. Uma hora está de um jeito e, logo em seguida, de outro.¿ Detalhe: nos próximos dias, a cúpula do PMDB vai novamente namorar Aécio.

¿Nós também marcamos um encontro com Tarso Genro para quinta-feira¿, contou o líder da bancada do PMDB na Câmara, Henrique Alves (RN). ¿Está na hora de a gente parar de discutir só cargos e pensar na política, em 2008 e em 2010.¿

Com o mesmo discurso de Lula, Alves diz que o ideal é evitar o racha na base aliada e conseguir o lançamento de uma candidatura única à Presidência em 2010. E pode ser Dilma? ¿Se ela desejar ser, será¿, desconversa o deputado. ¿É uma excelente ministra, fiel a Lula, mas falta a ela molho político e versatilidade¿, ressalva. Para o líder do PMDB, trata-se de uma ¿questão de forma, não de conteúdo¿.

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