Título: Montadoras se cansam da OMC e buscam mercados
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/03/2008, Economia, p. B7

Indústria estuda potenciais países para acordos comerciais bilaterais

Sem mais paciência para esperar a conclusão da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), a indústria automobilística brasileira revela ao Estado que em abril vai apresentar um mapa dos mercados com quais gostaria que o governo começasse a negociar acordos comerciais.

No setor privado, a sensação é de que o Brasil não pode mais ficar à mercê do que vai ocorrer na OMC para conquistar mercados. Para se lançar em uma nova estratégia, a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) está concluindo um estudo sobre as prioridades ofensivas para as exportações do setor.

¿Vamos identificar onde estão nossos principais interesses e onde acreditamos que podemos ser competitivos¿, afirmou Jackson Schneider, presidente da Anfavea, que ontem esteve em Genebra para reuniões na Organização Internacional de Fabricantes de Veículos (OICA, em inglês).

Para ele, Doha ainda é vital e precisa ser concluída, mas o País não pode ficar parado. O projeto inclui eventuais acordos comerciais com países da América Latina, árabes, da Ásia e da África. ¿Esses são os mercados que temos vantagens comparativas¿, afirmou Schneider.

Há até a possibilidade de se negociar um acordo de autopeças com a Europa, já que o setor brasileiro estaria demonstrando competitividade suficiente para enfrentar a concorrência dos países ricos.

O plano vem no momento em que as exportações do setor começam a estagnar. Em 2008, a previsão é que o valor seja o mesmo de 2007, de cerca de US$ 13 bilhões. Em volume, a queda será de cerca de 5% em razão da valorização do real. A Marcopolo, por exemplo, conta que passou de vendas de mil ônibus por ano ao Oriente Médio em 2004 para menos de cem hoje.

O que está fora de questão é um acordo com a China. Hoje, o país já tem 82 marcas de carros, ante a média de 47 na Europa e nos Estados Unidos. O que assusta a Anfavea é a possibilidade de esses veículos estarem sendo produzidos com mão-de-obra barata e beneficiados por um câmbio mantido artificialmente pelo governo.

EUA e Europa vêem o setor automotivo brasileiro como um dos obstáculos ao acordo na OMC. Querem que o Brasil reduza em 60% a tarifa de importação de veículos.