Título: Museu do Ipiranga: 12 vigias para 125 mil obras
Autor: Brandalise, Vitor Hugo
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/03/2008, Metrópole, p. C6

Falta de segurança obriga local a ficar fechado também às terças

No início do ano, o Museu do Ipiranga foi fechado para visitação às terças-feiras. Turistas, só de quarta a domingo. A medida, tomada pela administração por falta de pessoal, além de irritar visitantes desavisados, revela a situação dos 12 seguranças do museu - que são obrigados a escolher, entre as 30 salas com mais de 125 mil obras de arte reunidas desde 1890, qual delas terão de vigiar.

Os vigias que ficam no andar superior têm ordem expressa: caso estejam sozinhos nos 1,6 mil m2 do pavimento, devem ficar de olho na tela Independência ou Morte, de Pedro Américo, pintada em óleo em 1888 e que cobre uma parede inteira (4,10m por 7,60m). ¿Deve ser a mais importante¿, diz um dos funcionários do museu, que recebe R$ 900 mensais.

Enquanto isso, nas 14 salas ao lado, telas que retratam os ofícios e o comportamento dos cidadãos paulistas na transição entre os séculos 19 e 20 permanecem penduradas sozinhas, muitas sem vigilância eletrônica - na ala Cotidiano e Sociedade, também no pavimento superior, quatro das sete salas não têm câmeras de segurança. ¿Nos desdobramos para vigiar o local¿, diz a assistente administrativa do museu, Cláudia Toledo.

A fragilidade da vigilância se reflete nas obras expostas no museu. Na sala do Comércio, basta se aproximar da tela Inundação da Várzea do Carmo , pintada por Benedito Calixto em 1892, para ver que o canto esquerdo do quadro está rasgado. ¿As pessoas encostam nas telas, forçam as peças. Se tivesse algum vigia na sala, é claro que não aconteceria¿, revela outro funcionário. Na sala ao lado, outra peça histórica danificada é a cadeira de repouso que pertenceu à Marquesa de Santos, no século 19 - um furo na palha que cobre a cadeira e outro rasgão, de 30 centímetros, na borda do assento.

Hoje, o quadro de vigias do museu é de 19 funcionários - mas apenas 12 estão na ativa. Eles se revezam, em turnos, para cobrir os 4,6 mil m2 da área do local que recebem em média mil pessoas por dia - em feriados, a visitação sobe para até 7 mil pessoas. ¿A situação complicou no início do ano passado, quando quatro vigias se aposentaram e não foram substituídos¿, explica Cláudia. O museu é administrado pela Universidade de São Paulo (USP), que gasta R$ 50 mil com 103 funcionários. Todas as contratações são feitas por concurso público.

FALTA DE ENERGIA

O estudante universitário Lucas Martins, de 22 anos, deu azar ontem - terá de voltar outro dia para terminar o trabalho de história da arte. ¿É a segunda vez que venho aqui e o subsolo está fechado. Enfrentei esse calorão para ter de voltar outro dia? Incrível¿, diz, com ironia. Ontem, o fechamento nada teve a ver com segurança, motivo que impedia a visitação no ano passado pelo menos duas vezes por semana. ¿Faltou luz no quarteirão¿, apressou-se a dizer a assistente de administração.

A USP, através de sua Assessoria de Imprensa, diz que a necessidade de fechar o museu para visitação na terça-feira - o local já fechava às segundas - é provisória e será normalizada ¿o mais breve possível¿. Nem a administração do museu nem a USP arriscam um prazo. ¿Esperamos que até abril ,quando as excursões escolares aumentam¿, diz Cláudia.

NÚMEROS

R$ 50 mil é a verba destinada pela Universidade de São Paulo para manter os 103 funcionários do museu R$ 20 mil é o montante repassado pela USP para custear as demais despesas do museu

1.000 visitantes passam, em média, diariamente pelas 30 salas do Museu do Ipiranga