Título: Frigoríficos entram em novas áreas
Autor: Gómez, Natalia
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2008, Negócios, p. B1A

Empresas de carne bovina investem agora em aves, lácteos e suínos

Natalia Gómez

Depois de concentrar suas compras nos últimos anos em abatedouros e indústrias de carne bovina, os grandes frigoríficos brasileiros estão cada vez mais voltando seu foco para as empresas de frangos, suínos e lácteos, como forma de diversificar a atividade. Após a compra da Vigor, fabricante de produtos lácteos, pelo Frigorífico Bertin, e da entrada do Friboi na área de suínos, com a compra da americana Swift, no ano passado, dessa vez é a Marfrig, outra gigante da área de bovinos, que entra em um novo segmento.

A empresa anunciou na quinta-feira a compra da Penapaulo, dona da marca Pena Branca, por US$ 53 milhões. O grupo também comunicou a aquisição da DaGranja Agroindustrial por US$ 58 milhões. Com os dois negócios, a Marfrig inicia as atividades na avicultura com capacidade de abate de 780 mil frangos por dia.

Além disso, segundo fontes do mercado, existem vários frigoríficos em busca de ativos do setor de aves em São Paulo, mercado no qual a atividade de abate é mais intensa. Uma das negociações em curso seria entre o Bertin e o Sertanejo, do interior de São Paulo. O Bertin já anunciou em novembro do ano passado seu plano de atuar em aves. Outros frigoríficos, como o Independência e o Estrela, também estariam em busca de oportunidades nessa região.

O interesse das empresas em outras atividades está relacionado com a escassez de bois no mercado interno desde o ano passado. ¿O alto preço da matéria-prima reduz a rentabilidade e estimula a busca de negócios em novas áreas¿, disse o consultor José Vicente Ferraz, da FNP. Segundo ele, o preço do boi deve manter a tendência atual durante os próximos anos, porque a recomposição do rebanho é um processo demorado.

A alta dos custos já reduziu o interesse das companhias na compra de abatedouros de bois, que foi muito intensa no ano passado. ¿Não faria sentido investir em abate de bovinos nesse momento¿, disse Fabiano Tito Rosa, da Scot Consultoria. Segundo ele, o interesse dos frigoríficos em empresas de frango se justifica pelas sinergias no sistema de distribuição e pelo fato de que as empresas podem destinar as vendas de frango para os clientes que já possuem no Brasil e no exterior.

Outra vantagem são as boas perspectivas para o segmento de aves no mercado mundial. ¿O frango enfrenta menos barreiras culturais no exterior, tem um apelo mais saudável e permite a produção de um leque maior de produtos industrializados¿, disse. No mercado interno, as expectativas para o frango são positivas por causa do aumento da renda dos brasileiros. De acordo com os especialistas, o frango nunca passaria por uma crise de escassez tão grave quanto o boi porque seu ciclo de vida é muito mais curto, o que permite um aumento rápido da oferta.

Para o analista da Link Corretora, Rafael Cintra, o ¿momento¿ da indústria de aves é muito melhor do que o período enfrentado pela de bovinos. ¿Os preços estão subindo e os volumes também estão em crescimento. É uma situação completamente diferente da atividade bovina, que enfrenta embargos e uma desconfiança do principal comprador, a Europa¿, diz.

DESAFIOS

Apesar das vantagens estratégicas, os frigoríficos terão o desafio de encontrar ativos de porte e boa qualidade nessa área. A Eleva, uma das maiores produtoras de frango do País, foi comprada pela Perdigão no ano passado. A Sadia comprou neste ano a Goiaves, especializada no abate e no processamento de frangos, e a Excelsior, produtora de embutidos, e continua atenta a oportunidades para ampliar produção. Até mesmo empresas estrangeiras estão interessadas no segmento. A Tyson Foods estava prestes a comprar a Pena Branca, mas perdeu o negócio para o Marfrig.

Por esse motivo, ativos em outras áreas também serão avaliados pelas empresas. ¿A opção por frangos, lácteos ou suínos dependerá somente das oportunidades de compra que surgirem¿, disse Ferraz. Companhias que atuem em ovinos também podem se tornar alvos interessantes, segundo Rosa.

Independentemente do setor escolhido por cada empresa, a diversificação das atividades será uma meta comum a todo o setor de carnes porque ajudará a reduzir os riscos das operações. A Sadia e Perdigão iniciaram um movimento semelhante no ano passado, ao investirem em carne bovina. A Perdigão tem sido ainda mais agressiva nessa estratégia, que inclui investimentos em lácteos, margarinas e pet food.

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