Título: Reserva de Jubarte pode ter quatro vezes mais gás
Autor: Lima, Kelly
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/09/2008, Economia, p. B3

Por isso, a Petrobrás estuda a construção de gasodutos em alto-mar

Kelly Lima, VITÓRIA

As reservas sob a camada de sal no Campo de Jubarte, na Bacia de Campos, podem conter até quatro vezes mais gás do que as estimadas pela Petrobrás quando prospectava apenas na rocha. A informação foi confirmada ao Estado pelo gerente dos projetos de Exploração do Parque das Baleias, Mauro Coutinho.

Essa perspectiva forma uma das bases nas quais a estatal tem se apoiado para desenvolver internamente o projeto de construção de uma rede de gasodutos em alto-mar, a exemplo da que existe no Golfo do México, nos Estados Unidos.

A idéia é unir, ainda por mar, os campos produtores localizados ao norte e ao sul da costa do Espírito Santo e, assim, facilitar o escoamento para uma das três unidades de processamento de gás localizadas no litoral capixaba. Todas elas também deverão passar por ampliação nos próximos anos.

Coutinho não fala em valores e acredita que o projeto nem sequer deverá entrar na íntegra na revisão do Plano de Investimentos da estatal, previsto para ser anunciado em outubro, referente ao período de 2009-2013.

Segundo especialistas, no entanto, os valores envolvidos para a construção da rede de gasodutos ficaria entre US$ 2 bilhões e US$ 4 bilhões, dependendo dos volumes e sem considerar a ampliação das unidades de processamento em terra.

Ainda assim, a Petrobrás tem avaliado que essa malha de dutos pode ser mais econômica e eficiente do que apenas a ampliação das bases terrestres. A rede de gasodutos ligaria a produção do Parque das Baleias (formada pelos Campos de Jubarte, Cachalote, Pirambu, Baleia Franca, Baleia Anã e Baleia Azul, todos na Bacia de Campos) aos sistemas de Peroá-Cangoá, na Bacia do Espírito Santo, ao norte; e a Roncador, na Bacia de Campos, ao sul.

Isso permitiria levar o gás de sua origem até as unidades de tratamento de Cacimbas (ES) e de Cabiúnas (RJ), que são as bases do Gasoduto Sudeste-Nordeste (Gasene). Pelo projeto inicial, o escoamento seria feito apenas por um duto até a Unidade de Tratamento de Gás Sul Capixaba (UTG-Sul), que está sendo construída com capacidade para 10 milhões de metros cúbicos.

Apenas o primeiro poço perfurado no pré-sal de Jubarte, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva inaugurou oficialmente ontem, fez aumentar a produção de gás no campo de 400 mil para 1,2 milhão de metros cúbicos por dia.

Por falta de infra-estrutura de escoamento, a maior parte desse volume será reinjetada nos reservatórios ou queimada. ¿Percebemos que o petróleo retirado do pré-sal traz consigo uma maior carga de gás associado¿, disse Coutinho. É normal, no processo de extração de óleo, que os poços produzam algum volume de gás. Algumas vezes esse gás é queimado e outras, reinjetado nos poços para elevar a pressão do petróleo e, quando o volume é suficiente para justificar o aproveitamento, ele é enviado ao continente.

Com o novo projeto que vem sendo estudado, as unidades de tratamento de gás já montadas pela Petrobrás em Cacimbas (ES) e em Cabiúnas (RJ) poderiam ter utilização mais ampla, principalmente por causa das perspectivas de volume a serem produzidos em outros dois poços de pré-sal que a companhia pretende perfurar até 2010 no Campo de Cachalote.

A perna de escoamento para o norte, por exemplo, também poderia, dar ¿carona¿ a volumes produzidos em outras áreas, como Golfinho, Camarupim, Canapu e BM-S-5, que ficam no meio do caminho entre Jubarte e Peroá-Cangoá.

Há, ainda, a perspectiva de que a instalação permitiria o aproveitamento de um outro volume, a ser produzido no vizinho Parque das Conchas. A produção prevista nos campos da área, operada pela Shell, para 2010 alcança 800 mil metros cúbicos por dia.