Título: Para Meirelles, a crise é grave e exige serenidade
Autor: Otta, Lu Aiko; Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/10/2008, Economia, p. B4

O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, ressaltou ontem que a crise financeira internacional é grave e seus impactos na economia real começam a ser medidos agora, especialmente com a diminuição da liquidez bancária e a perda de riqueza percebida pelas famílias norte-americanas.

¿Não há dúvida de que há um impacto da maior importância¿, comentou Meirelles. ¿Se olharmos lá fora, a percepção de gravidade da crise no mercado internacional era muito maior ontem do que hoje. Amanhã vamos ver. A crise é séria, vemos a sua evolução na Europa. Nós estamos observando que (o credit crunch) é algo que é sujeito a muitos altos e baixos, independentemente da evolução política nos Estados Unidos relativa à formação do pacote.¿

Embora tenha ressaltado que o Brasil não está imune à crise, pois faz parte do circuito comercial e financeiro internacional, Meirelles destacou que o Brasil está mais resistente à desaceleração da economia mundial. Ele disse que as reservas internacionais, que somam US$ 207 bilhões, são equivalentes a três vezes a dívida externa que vence em 12 meses.

Segundo o presidente do BC, o Brasil soube aproveitar o ciclo de expansão econômica mundial, pois de janeiro de 2004 até agosto de 2008 o BC incorporou US$ 157,8 bilhões às reservas cambiais.

Em palestra no ¿Fórum Estadão Crescimento x Previdência¿, promovido pelo jornal O Estado de S. Paulo e pela Agência Estado, em São Paulo, Meirelles mostrou que a dívida externa líquida atingiu US$ 166,7 bilhões no primeiro trimestre de 2002, mas a situação se inverteu e hoje o País possui mais ativos que dívidas no exterior, num saldo de US$ 16,6 bilhões.

Meirelles disse que as autoridades econômicas estão olhando com grande serenidade para os desdobramentos da crise internacional e, se for necessário, o governo não hesitará em tomar medidas para coibir os efeitos negativos na economia brasileira.

¿Estamos observando (a crise) com serenidade porque a situação nos permite, dado que o País está em condições de fazer isso¿, disse o executivo. ¿Medidas precipitadas adotadas no calor dos acontecimentos tendem a ser medidas que se mostram equivocadas. Este é um momento de teste¿, concluiu o presidente do BC.