Título: BC acena com retomada do ciclo de alta dos juros
Autor: Graner, Fabio; Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/11/2008, Economia, p. B8

O aumento do grau de incerteza e as restrições ao crédito influíram na decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de interromper o processo de alta dos juros na semana passada, mas não são elementos suficientes para descartar a possibilidade de, futuramente, o BC retomar as elevações da taxa Selic, mantida em 13,75%, segundo a ata da última reunião do colegiado na semana passada.

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O documento, divulgado ontem, faz três alertas: ainda persiste o descompasso entre oferta e demanda, os sinais de impactos da crise financeira na inflação são contraditórios e o Banco Central mantém a decisão de trazer a inflação para 4,5%, o centro da meta definido para 2009. O IPC-A, índice oficial de inflação, está em 6,25% nos últimos 12 meses encerrados em setembro.

Na ata, o Copom não atenua o tamanho da crise externa e reconhece que ela pode desacelerar o ritmo da economia, sendo uma espécie de dose adicional de política monetária sem aplicação por parte do BC. Em tese, isto ajudaria no esforço antiinflacionário, já que o Copom entende que o nível de atividade interna não pode continuar no ritmo que está, sob pena de dar mais combustível à alta nos preços.

Por outro lado, a crise, sobretudo por causa da desvalorização do real, pode provocar maior pressão inflacionária no curto prazo, criando dificuldades adicionais para a gestão da política monetária.

A preocupação com a alta dos preços está expressa na ata quando a diretoria afirma que a ¿estratégia adotada pelo Copom visa trazer a inflação de volta à meta central de 4,5% tempestivamente, isto é, já em 2009'. Segundo o documento, a calibragem da taxa de juros pode ocorrer, ¿ não necessariamente, de forma contínua¿, ou seja, a autoridade monetária poderá atuar ¿na medida em que o balanço dos riscos para a dinâmica inflacionária assim o requerer¿.

Para o economista-chefe da Ativa Corretora, Arthur Carvalho Filho, o BC foi cuidadoso na redação da ata porque conseguiu deixar aberta a possibilidade de manter o juro por mais tempo ou, eventualmente, retomar o aperto das taxas com novas altas da Selic. ¿Se o acesso ao crédito continuar restrito, a pressão para a inflação diminui, o que levaria o BC a manter a taxa estável por mais tempo. Mas caso os empréstimos voltem a crescer com força, o Copom pode voltar a subir o juro. Ele deixou as duas portas abertas¿, diz.

O Copom salienta que o potencial impacto do cenário externo sobre o futuro da economia brasileira continua contraditório e carregado de incerteza. De um lado, ele aponta para desaceleração econômica e redução dos preços das commodities, o que favorece a queda da inflação. De outro, eleva a aversão ao risco e reduz a demanda por produtos brasileiros, afetando negativamente a balança comercial.

O Copom também destaca que, nos países desenvolvidos, a crise tem um impacto negativo mais claro na atividade econômica. Por isso, permite que os bancos centrais dessas nações promovam agressivas reduções de juros sem perder o controle da inflação. Já nas economias emergentes, avalia o BC, o cenário é mais diversificado, já que a crise leva a desvalorização das moedas e, conseqüentemente, a maior pressão inflacionária.

TRADUZINDO A ATA

A demanda ainda cresce em ritmo maior que a oferta na economia, o que é um importante fator de risco inflacionário para o País

A desvalorização do real, em razão do aumento do risco e piora do cenário externo, pode elevar as pressão inflacionária a curto prazo

A crise internacional restringiu o crédito, o que pode conter a demanda. Essa conseqüência da crise se soma ao efeito das altas de juros, de conter a demanda, ajudando a reduzir a inflação

Nesse ambiente de incerteza, o Copom decidiu manter a Selic.

O Copom está atento à inflação e pode ajustar os juros, mesmo que de forma descontínua, para garantir o controle dos preços

O Copom trabalha para que inflação feche 2009 no centro da meta de 4,5%

O efeito da crise na atividade econômica dos países desenvolvidos é forte, por isso as políticas monetárias estão mais flexíveis. Nos emergentes, o impacto não é claro e há desvalorização cambial, com impacto na inflação, o que diversifica as políticas monetárias

A gasolina não deve subir este ano, mas a queda do petróleo pode se transmitir para economia; combustíveis, energia e telefones devem subir mais em 2009: 5,5%, ante 4,8% na previsão anterior