Título: Atentados mostram nova face do terrorismo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 28/11/2008, Internacioal, p. A13

Um dia após os ataques que mataram 125 pessoas em Mumbai, na Índia, uma questão ainda intriga os principais especialistas em terrorismo no mundo: quem são os terroristas? O único consenso é que os atentados representam uma nova face do terror, diferente do padrão que vinham tendo os ataques realizados no país. Até então, o terrorismo indiano tinha como alvo a população local - e não turistas estrangeiros.

¿Os atentados de Mumbai são altamente perturbadores porque tinham como objetivo atacar múltiplos alvos e matar ou tomar estrangeiros como reféns¿, disse Sajjan Gohel, especialista em segurança da Fundação Ásia-Pacífico.

A primeira parte do mistério é saber até que ponto os terroristas tiveram ajuda externa. Mas as autoridades dizem que o nível de organização, planejamento e coordenação não poderia ter sido atingido sem a ajuda de terroristas experientes, talvez ligados à Al-Qaeda. Mas isso não resolve o mistério sobre a identidade dos terroristas.

Segundo a rede CNN, os terroristas teriam planejado a ação por várias semanas e até mesmo se hospedado nos dois hotéis atacados. Os ataques começaram às 21h20 de quarta-feira na estação de trem de Mumbai e prosseguiram em intervalos de 15 minutos pelos outros alvos. A polícia apreendeu botes de borracha, com armas e um telefone por satélite, noa quais eles teriam chegado à cidade.

AUTORIA

Após os ataques, um grupo autodenominado Mujahedin do Deccan reivindicou a autoria. O problema é que nenhum especialista em segurança e terrorismo conhece a organização. Deccan é o nome da região onde fica a cidade indiana de Hyderabad, no centro da Índia. Mujahedin são os guerreiros islâmicos. ¿Os dois nomes juntos não dizem nada. Esse grupo é uma farsa¿, disse Gohel.

¿Para mim, não está claro se esse grupo existe de verdade¿, afirmou Bruce Hoffman, da Universidade Georgetown e um dos mais conceituados especialistas na área.

Segundo o governo indiano, o nome sugere uma relação com o grupo Mujahedin Indiano, envolvido em ataques que já mataram 200 pessoas este ano no país. Em setembro, o Mujahedin Indiano enviou uma mensagem a jornais da Índia ameaçando lançar ¿ataques mortíferos¿ em Mumbai.

Christine Fair, do Instituto Rand, afasta qualquer relação com a Al-Qaeda. ¿Não tem nada a ver com eles. A Al-Qaeda não usa granadas e não faz reféns¿, disse.

O uso de granadas e fuzis AK-47, segundo analistas, colocaria os terroristas de Mumbai mais próximos das guerrilhas islâmicas que atuam na Caxemira, no Afeganistão e no próprio território indiano. Com base em imagens de TV e fotos, que mostraram que os terroristas eram jovens - de 20 e poucos anos e usando camisetas e jeans -, o governo suspeita da participação de estudantes muçulmanos. ¿A pobreza tem empurrado esses muçulmanos indianos para o fundamentalismo¿, disse Christine.