Título: Tesouro Nacional capta no exterior US$ 500 milhões
Autor: Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/07/2009, Economia, p. B6

Demanda de investidores supera 14 vezes a oferta de títulos da dívida externa com prazo de vencimento de 30 anos, os chamados Global 2037

Adriana Fernandes

Mesmo em meio às notícias de déficit nas contas do setor público, o governo brasileiro voltou ao mercado internacional e captou ontem US$ 500 milhões em títulos da dívida externa com prazo de vencimento de 30 anos, os chamados Global 2037.

Com a operação, o Brasil foi o primeiro país emergente a encontrar uma janela de oportunidade para emitir títulos com prazo de 30 anos depois do agravamento da crise financeira internacional, em setembro do ano passado, após a quebra do banco de investimentos americano Lehman Brothers.

Sem precisar de dólares para pagar os compromissos externos deste ano, o Brasil conseguiu vender o Global 2037 com custo para o Tesouro Nacional menor do que o obtido na última emissão do mesmo papel, em 2007 - no período pré-crise, quando a economia brasileira estava crescendo a ritmo acelerado e o mercado não tinha fechado as portas para emissões com prazos mais longos de países emergentes.

A operação funcionou como espécie de "teste" de confiança na economia brasileira e servirá como referência para eventuais captações externas de empresas privadas e estatais, como a Petrobrás e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

A demanda dos investidores bateu em US$ 7 bilhões, superando em mais de dez vezes a oferta do governo.

A forte procura dos investidores, percebida poucos minutos após o anúncio da operação, empurrou o preço para baixo do papel. A indicação de preço na hora do lançamento - prática comum nesse tipo de operação - era de uma taxa de retorno para o investidor (yield) de 6,6% ao ano.

Mas com a forte procura, o Global 2037 foi vendido a 6,45%. Em 2007, o Global 2007 foi vendido com taxa de retorno de 6,63%. Na primeira emissão com esse prazo, em janeiro de 2006, a taxa da operação saiu a 7,5%.

Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o "teste" de confiança no Brasil foi um sucesso. "Enquanto o Brasil vendeu a 6,45% ao ano, o título com mesmo prazo dos Estados Unidos tem taxa de 4,45% ao ano. Dois pontos de diferença apenas", ressaltou.

O ministro previu que as taxas dos papéis brasileiros devem continuar caindo nas próximas emissões.

Ele chegou a comentar que, se o Brasil fizer nova emissão daqui a dois meses, as taxas vão cair "ainda mais".

SABOR ESPECIAL

O Estado apurou que o teste da operação nesse momento de crítica e pressão interna contra a política fiscal teve "sabor especial" para o governo. Na avaliação de equipe econômica, a forte demanda sinalizou que não há no exterior preocupação com a política fiscal como a demonstrada pelos analistas no Brasil.

Segundo uma fonte, o Ministério da Fazenda considera frágeis e pouco aprofundadas as análises da política fiscal que são feitas no País. "Os analistas no exterior veem o mundo todo e comparam com o Brasil. O (setor) fiscal no Brasil está melhor do que em outros países", afirmou a fonte.

Até agora, depois da crise que aumentou a aversão ao risco, os países emergentes só vinham conseguindo vender papéis com prazo máximo de 10 anos. O México, por exemplo, chegou a tentar vender ao mesmo tempo títulos com vencimento de cinco e 25 anos, mas não foi bem-sucedido.

Ao contrário do Brasil, muitos países emergentes estavam precisando captar dólares para pagar seus compromissos, o que eleva os custos da operação.

Os coordenadores da emissão brasileira, os bancos JP Morgan e Deutsche, pararam de receber ordens no livro de ofertas ainda pela manhã. Essa estratégia ajudou a reduzir o preço indicativo do bônus.

Com essa emissão, o Tesouro elevou para US$ 3 bilhões o volume desse papel no mercado. Foram cinco emissões ao todo. Essa referência (benchmark) de 30 anos é considerada importante para o alongamento e melhora do perfil da dívida. Foi a terceira emissão soberana deste ano - já ocorreram duas , anteriormente, com prazo de 10 anos, o Global 2019, em janeiro e maio.