Título: Estudo coloca em xeque classificação como hotspot
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Fonte: O Estado de São Paulo, 07/09/2009, Vida&, p. A13

Ao mesmo tempo que ressaltam o estado vulnerável de conservação do cerrado, os novos dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA) colocam em xeque a classificação do bioma como um "hotspot" de biodiversidade global.

O conceito, amplamente usado na literatura científica, foi criado em 1988 pelo ecólogo Norman Myers para definir áreas com grande número de espécies e altamente ameaçadas pela destruição de hábitat. Os critérios para entrar na lista são: abrigar pelo menos 1.500 espécies endêmicas de plantas e ter mais de 70% da área do bioma alterada pelo homem.

O cerrado passa fácil pelo primeiro critério: tem cerca de 4.400 espécies endêmicas de planta, segundo as estatísticas compiladas pela organização Conservação Internacional (CI). Já o segundo critério é colocado em dúvida pelos dados do MMA, segundo análise feita pelo Estado.

O livro Hotspots Revisited, publicado pela CI em 2004, utiliza como base para classificação do cerrado um estudo de 1998 (baseado em imagens de satélite de 1993), segundo o qual 79% do bioma já estava alterado pelo homem. "Nossos dados não chegam a esse limiar (de 70%)", disse o diretor de Conservação da Biodiversidade do MMA, Braulio Dias. Segundo o levantamento do ministério, 50% do bioma ainda está conservado de alguma forma.

"Na minha experiência, 50% parece ser um dado muito otimista", diz o biólogo brasileiro Gustavo Fonseca, um dos principais responsáveis pela classificação internacional de hotspots. Segundo ele, o critério de hotspot só considera como preservadas as áreas totalmente livres de ocupação humana.

A interpretação de imagens de satélite no cerrado é extremamente complicada. As paisagens variam muito naturalmente, tanto no espaço quanto no tempo. Um dos pontos mais polêmicos é a classificação das pastagens naturais - áreas de capim nativo que são usadas para alimentar o gado.

No estudo do MMA, elas foram consideradas como conservadas, porque, apesar do uso como pasto, mantêm sua cobertura vegetal original. "Só marcamos como desmatadas as áreas que foram 100% convertidas", explicou Dias. "Onde ainda há vegetação nativa, classificamos como remanescente."

Fonseca discorda. "É uma área que está sendo usada e que, portanto, já sofreu um certo grau de transformação. Não é mais um ecossistema original", avalia.