Título: Em clima tenso, governo de facto renova restrições
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/09/2009, Internacional, p. A18

Anúncio é feito horas após abrandamento de medidas restritivas; cerco militar à embaixada brasileira é ampliado em 100 metros

O porta-voz do governo de facto de Honduras, César Cáceres, anunciou na tarde de ontem a renovação do toque de recolher das 19 horas até a 5 horas de hoje. Segundo Cáceres, a medida foi tomada por causa da situação de insegurança e da possibilidade de distúrbios.

O governo havia aliviado ontem as restrições aplicadas sobre a população desde segunda-feira, como forma de imprimir uma aparente normalidade ao país. O toque de recolher foi suspenso por várias horas. Os aeroportos internacionais foram reabertos, em clara indicação de que o país não mais resistirá ao desembarque de uma missão da Organização dos Estados Americanos (OEA).

Mas, apesar do abrandamento das medidas restritivas, o presidente de facto, Roberto Micheletti, e o presidente Manuel Zelaya, deposto em 28 de junho e abrigado há quatro dias na Embaixada do Brasil, continuam encastelados em suas posições, apesar da iniciativa de diálogo anunciada ontem pelo líder deposto.

Com as medidas de alívio, o comércio reabriu parcialmente em Tegucigalpa, e seus habitantes retomaram suas rotinas. Manifestantes pró-Zelaya evitaram se concentrar, sob o temor da repressão policial. Somente um tímido protesto, com cerca de 200 estudantes, ocorreu próximo da Universidade Autônoma de Honduras.

Mas o cerco militar e policial à embaixada foi estendido em quase cem metros. As barreiras impedem o registro por parte da imprensa de qualquer iniciativa de invasão do prédio, em uma possível ação para prender Zelaya.

Os telefones fixos da embaixada continuam cortados, assim como os cabos de internet. O único meio de comunicação com o exterior do encarregado de negócios, Francisco Catunda Resende, é seu celular pessoal, por isso o Itamaraty vem tendo dificuldade para acompanhar os acontecimentos e dar instruções ao diplomata. Embora Micheletti tenha declarado que a hipótese da invasão não está sendo cogitada, o temor ainda estava presente dentro da embaixada. "Aqui, o Exército e a Polícia Militar estão unidos", insistiu Micheletti nas várias entrevistas que concedeu ontem à imprensa.

MANIFESTAÇÃO

Ontem, a União Cívica Democrática (UCD), entidade solidária ao governo de facto, organizou um protesto contra "Mel" Zelaya diante da representação da ONU em Tegucigalpa, localizada a poucos quarteirões da embaixada brasileira.

Ao contrário das manifestações dos dias anteriores, promovidas por correligionários de Zelaya, o protesto não foi reprimido pela polícia, mesmo após um participante ter sido atingido na cabeça por uma pedrada.