Título: 178 mil estudam em sala superlotada
Autor: Iwasso, Simone; Rehder, Maria
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/03/2008, Vida&, p. A38

Problema afeta 3,5% dos 5 milhões de estudantes da rede estadual de SP e é visto como pontual pelo governo

Cerca de 177,9 mil estudantes do ensino fundamental e médio estudam em 4.224 salas superlotadas no Estado de São Paulo. O número representa 3,5% do total de 5 milhões de alunos da rede - a maior do País. O problema está concentrado principalmente nas periferias da Grande São Paulo. É lá também que estão as 57 escolas que ainda trabalham com três turnos - um deles no horário do almoço, conhecido como ¿turno da fome¿.

Os números foram divulgados ontem pela secretária da Educação, Maria Helena Guimarães, durante evento para assinatura do termo de adesão do Estado ao Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), conjunto de 28 pontos elaborados pelo Ministério da Educação. São Paulo foi o último Estado a se comprometer e Minas, o penúltimo. Na cerimônia, a Prefeitura de São Paulo também anunciou sua adesão.

¿A superlotação é pontual. Ela existe com 3,5% dos nossos alunos que estão em escolas superlotadas, especialmente na Grande São Paulo¿, afirmou a secretária. A principal dificuldade para sanar o problema, segundo ela, é a falta de terrenos disponíveis - na última inauguração de uma unidade em Guarulhos, por exemplo, Maria Helena pediu à prefeitura que cedesse algum terreno.

No fim do ano passado, a secretaria contratou a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) para fazer um estudo sobre a quantidade de alunos nas salas. O trabalho foi feito no começo deste ano. E o objetivo anunciado na época, e que permanece agora com os dados em mãos, é reduzir o número máximo para 30 alunos de 1ª a 4ª séries, 35 alunos de 5ª a 8ª séries e 40 alunos para ensino médio.

A coordenadora do curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Ângela Soligo, avalia que 177 mil alunos em salas superlotadas é um número muito alto. ¿Numa sala com 40 alunos o professor tem mais dificuldade de conhecer melhor seus alunos, há mais ruído, até o nome de todos fica difícil de decorar.¿

Segundo a especialista, se esse número de alunos em salas cheias se concentra na periferia da Grande São Paulo, a situação é ainda pior. ¿São esses alunos que precisariam de atenção ainda maior porque estão na periferia, têm acesso limitado a bens sociais. (É) para esses alunos que se deveria olhar com mais atenção.¿

REPASSE

A assinatura serviu também para que o Estado pedisse, em seguida, um repasse de R$ 2,8 bilhões do ministério para investir em infra-estrutura das escolas - estimativa da secretaria aponta que 60% dos prédios estão com problemas no telhado e nas instalações hidráulicas e elétricas. ¿Temos 5.537 escolas, os nossos prédios têm em média 10 mil, 11 mil metros quadrados de área construída¿, disse Maria Helena. ¿O Estado está investindo nas mais urgentes, mas, sem o dinheiro do ministério, essas reformas ficarão incompletas.¿

Questionado, o ministro da Educação, Fernando Haddad (PT), respondeu com uma provocação política. ¿Recebo feliz essa demanda, mas preciso da ajuda do senhor para convencer o PSDB e o Congresso, no âmbito da reforma tributária, a serem favoráveis ao fim da DRU (Desvinculação das Receitas da União) sobre recursos da educação¿, afirmou o ministro. Serra disse concordar com Haddad.

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