Título: Planalto decide forçar oposição a deixar CPI
Autor: Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/04/2008, Nacional, p. A8

Aliados rejeitam requerimento que pedia dados sobre despesas da Presidência com cartão

A ordem do Planalto para os aliados na CPI dos Cartões é ¿partir para o enfrentamento¿ com a oposição e forçá-la a abandonar a investigação. A estratégia não é consensual, mas foi a que teve o apoio da maioria dos participantes da reunião da coordenação política do governo na noite de anteontem, da qual participaram ministros e representantes de partidos aliados.

De fato, na sessão de ontem da CPI, a base aliada votou unida e derrotou facilmente três requerimentos da oposição, entre eles um que pedia todas as informações relativas aos cartões corporativos da Presidência. O pedido foi derrotado por 11 a 7.

Nessa tática de confronto, o governo também enviou o primeiro lote de documentos à CPI. São papéis com dados sobre despesas feitas com cartões de débito, cheques das contas tipo B ou pagas à vista com recursos do fundo de suprimentos nos últimos dez anos, que incluem a prestação de contas de três ministérios: Planejamento, Previdência e Desenvolvimento Agrário (MDA). Um interlocutor de Lula afirma que a ¿papelada¿ do MDA facilita a tática do confronto porque forçará o ex-ministro e deputado Raul Jungmann (PPS-PE) a dar explicações à CPI.

Diante dos rumores sobre supostas irregularidades que seriam constatadas pela CPI, o próprio Jungmann tomou a iniciativa de telefonar à tarde para o chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho. Pediu pressa na liberação dos relatórios sobre seus gastos, já solicitados judicialmente por meio de um habeas-data. ¿A finalidade disso tudo é me fazer dialogar com fantasmas e fantasias. É uma tentativa óbvia de intimidar¿, protestou.

TRADIÇÃO

Escalada para comandar a linha de frente do governo na CPI, a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), reconhece que a tradição é a busca do diálogo. Adverte, no entanto, que, com o tom agressivo e os ataques do líder tucano , Arthur Virgílio (AM), fica difícil. Ela insiste em que o grande objetivo da oposição é transformar Dilma em alvo. ¿Eu disse que o motivo da convocação da Dilma era o que ela representa e o que pode vir a representar em 2010 e torceram minha declaração como se eu justificasse a recusa do governo, e não as razões da oposição.¿

Um dos líderes que participaram da reunião de anteontem revela que se impressionou com o tom ¿contundente e indignado¿ do presidente Lula em defesa da ministra, que foi posta ¿acima do bem e do mal¿. Por isso, os aliados foram instruídos a ¿tratorar¿ qualquer iniciativa de convocar seus auxiliares, como a secretária-executiva Erenice Guerra, que seria responsável pela organização do banco de dados sobre gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

¿O PMDB considera a tática do confronto a pior possível e não dará respaldo à radicalização¿, avisa o líder do partido na Câmara, Henrique Alves (RN). Já o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, disse esperar que, ¿ao longo desta semana¿, o episódio do vazamento de dados de Fernando Henrique seja esclarecido. ¿Estou torcendo é para que as coisas se esclareçam esta semana, para a gente tratar de trabalhar.¿ COLABOROU EUGÊNIA LOPES