Título: Dossiê vazou sem querer, diz servidor
Autor: Madueño, Denise; Felipe Recondo, Brasília
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/05/2008, Nacional, p. A6

Aparecido, exonerado da Casa Civil, depõe à CPI amanhã

O ex-secretário de Controle Interno da Casa Civil José Aparecido Nunes Pires vai sustentar, em depoimento à CPI dos Cartões, marcado para amanhã, que foi o responsável pelo envio dos dados com informações de gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e da ex-primeira-dama Ruth Cardoso com cartões corporativos a André Fernandes, assessor do senador Álvaro Dias (PSDB-PR). Aparecido deve frustrar a oposição, que busca ligação entre o vazamento e responsáveis por ordenar a elaboração do dossiê.

Em conversa com amigos, Aparecido negou que tenha recebido pedido da secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, principal auxiliar da ministra Dilma Rousseff, para a elaboração de um dossiê. A mesma negativa foi feita à Polícia Federal na sexta-feira passada. Documento que contém o depoimento será aberto na CPI amanhã, em reunião fechada.

Aparecido contou à PF que enviou por distração o arquivo contendo os gastos de FHC ao assessor do senador. Ele havia recebido os dados de funcionários da Secretaria de Controle Interno, seus subordinados, que estavam cedidos à Secretaria de Administração para ajudar a sistematizar dados do suprimento de fundos a partir de 1998, período em que os gastos estariam sob análise da CPI que seria criada.

Além de negar o envolvimento de Erenice no episódio, Aparecido dirá que não existe qualquer acordo para livrar a secretária-executiva ou a própria ministra em troca de uma punição administrativa branda - e assim manter o seu emprego no Tribunal de Contas da União (TCU), de onde foi cedido à Casa Civil.

Aparecido precisará explicar à CPI, no entanto, quem selecionou o tipo de gasto que foi incluído na planilha. No relatório que chegou à imprensa constam gastos que poderiam causar constrangimentos ao ex-presidente e não, necessariamente, todas as despesas feitas com o cartão. Na planilha há compras de champanhe e outras bebidas e lixas de unha, por exemplo.

A oposição vê no depoimento apenas mais uma chance de tentar desgastar o governo. ¿O depoimento só será útil se ele disser quem foi que mandou fazer o dossiê. O importante é que ele diga isso¿, afirmou Álvaro Dias. ¿Eu não tinha nenhuma expectativa de que ele dissesse isso à PF, porque tenho a convicção de que houve um acordo dele com o Planalto. Não creio que ele avance no seu depoimento¿, lamentou.

Diante disso, avisou o deputado Índio da Costa (DEM-RJ), a estratégia é fazer perguntas objetivas e encaminhar as respostas ao Ministério Público. ¿Ninguém produz um dossiê como esse por conta própria.¿

Aparecido deixou a Casa Civil na quarta-feira. Na sexta-feira, ele foi indiciado pela PF por violação de sigilo funcional, com base no Artigo 325, Parágrafo 2º do Código Penal.