Título: Fundo Soberano era alvo de Nahas
Autor: Macedo, Fausto; Godoy, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/07/2008, Nacional, p. A9

Investidor pretendia manipular cotas do instrumento do governo

A Polícia Federal encontrou indícios de que banqueiro Daniel Dantas e o investidor Naji Nahas planejavam manipular cotas e operar o Fundo Soberano que o governo Lula pretendia lançar. O fundo, um instrumento para evitar a desvalorização das reservas cambias em dólares do País, previa a aplicação de parte dessas reservas em investimentos de maior risco e retorno. Em relatório de 23 de junho, o delegado Protógenes Queiroz, responsável pela Operação Satiagraha, deixa claro que seguia de perto a movimentação de Dantas e Nahas.

"Em vários momentos durante a investigação, Naji Nahas conversa com interlocutores comentando sobre a aquisição de "cotas" com valor individual superior a 200 milhões (sem especificar se dólares ou reais), por pessoas determinadas", afirma o delegado.

A idéia da criação do fundo foi discutida pela equipe econômica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante o primeiro semestre. Em fevereiro, relatório da PF mostrava que o fundo soberano a que Nahas se referia em suas conversas era, de fato, o Fundo Soberano Brasil. O investidor, segundo os agentes, conversa sobre o caso com o doleiro Carmine Enrique, uma das 24 pessoas que tiveram a prisão temporária decretada pela 6ª Vara Criminal Federal. Ele foi solto por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF). Outro importante interlocutor de Nahas sobre o tema é o ex-deputado federal e ex-ministro da Fazenda Delfim Neto, que estaria envolvido nessa articulação "em alinhamento com os negócios de N. Nahas".

Nahas, no entendimento dos policiais, parece ter informações privilegiadas sobre o assunto e já "se aventura a captar investidores internacionais para tal propósito". Para tanto, o investidor pretendia ganhar comissão de 10% nos negócios com esse tipo de fundo, já adotado por China, Cingapura, Emirados Árabes e Arábia Saudita.

Em uma outra conversa, ocorrida em 13 de março, Nahas deixa claro que deseja estar à frente das ações para a criação do fundo. Na mesma conversa, o investidor conta que vai receber "gente do Oriente Médio, da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes, que pretende investir no Brasil". O investidor comenta ainda sobre a possibilidade de uso de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.

"É inacreditável que pessoas ou órgãos do governo federal tenham se comprometido com o chefe da organização criminosa para mais uma vez tentar ou programar o desvio de recursos público", afirma o delegado.

Em outras conversa, desta vez com o ex-senador Gilberto Miranda, em 22 de abril, Nahas volta a tocar no assunto. A idéia é que os dois sejam sócios, pois "só no financeiro já vão ganhar muitos milhões".

O advogado de Nahas, Sérgio Rosenthal, disse que não tinha conhecimento sobre essas acusações e que somente na sexta-feira teve acesso ao inquérito. "No decreto de prisão não havia qualquer referência sobre as acusações, mas posso dizer que isso tudo é uma grande fantasia." Delfim e Miranda não foram localizados.