Título: Mercado já conta com nova alta de 0,75 ponto na Selic em setembro
Autor: Nakagawa, Fernando; Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/08/2008, Economia, p. B3
Com a mudança de tom da ata do Copom, analistas projetam que o juro chegará até a 15,25% no fim do ano
A Ata da última reunião do Copom, que elevou a taxa Selic em 0,75 ponto porcentual, firmou o compromisso do Banco Central (BC) de ¿agir vigorosamente¿ e por quanto tempo for necessário para levar a inflação de volta à meta de 4,5% em 2009. O mercado entendeu o recado. Analistas já contam com mais uma alta de 0,75 ponto em setembro.
O documento aponta vários fatores para justificar a elevação da Selic para 13% ao ano, mas ressalta o descompasso entre oferta e demanda nos mercados doméstico e internacional e relativiza a desaceleração de alguns índices, que ainda poderão ser afetados pela alta de preços no atacado, que ainda deve ser repassada ao varejo.
¿A política monetária deve atuar vigorosamente, enquanto o balanço dos riscos para a dinâmica inflacionária assim o requerer, por meio do ajuste da taxa básica de juros¿, diz o BC. A estratégia adotada pelo Copom confirma que o objetivo é ¿trazer a inflação de volta à meta central de 4,5%, tempestivamente, isto é, já em 2009¿.
Utilizando linguagem mais política que a usual, o BC disse que a elevação dos juros era necessária porque uma inflação alta e persistente pode levar ¿à redução do potencial de crescimento da economia¿, além de ter efeitos regressivos sobre a distribuição de renda.
O tom da ata divulgada ontem é bem mais pessimista que o da de junho. A causa foi o comportamento desfavorável de uma série de indicadores nas últimas semanas, como a inflação corrente e os preços no atacado, além do cenário externo.
Assim, o BC evidenciou que a opção pela alta mais forte da Selic - que subiu 0,5 ponto em cada uma das duas reuniões anteriores - visou a evitar a piora das projeções do mercado para a inflação. A ação do BC busca o que os economistas chamam de ancoragem das expectativas.
De acordo com as pesquisas mais recentes, o mercado trabalha com IPCA de 5% para 2009. Para 2008, a previsão é de 6,58%, portanto, acima do teto de 6,50% da meta.
Em meio a essas preocupações, até a recente desaceleração de alguns índices de inflação e dos preços das commodities foi minimizada. Nas últimas semanas, o Ministério da Fazenda vinha sugerindo que a melhora desses indicadores poderia fazer com que o BC evitasse uma ação mais forte nos juros. No documento, o BC sinaliza, entretanto, que ainda é cedo para comemorar o comportamento desses indicadores.
Vários trechos da ata alertam para a possibilidade de que aumentos de preço no atacado sejam repassados ao varejo, já que a demanda interna continua aquecida e alguns setores podem enfrentar problemas na oferta de produtos e serviços.
¿A redução pronta e consistente do descompasso entre o crescimento da oferta de bens e serviços e a demanda continua sendo central na avaliação das diferentes possibilidades que se apresentam para a política monetária¿, avalia o BC, salientando que o aumento da renda, do crédito e os gastos do governo potencializam esse quadro.
EXPECTATIVAS
A ata levou o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, a elevar a previsão para os juros no fim do ano de 14,25% para 15,25%. Para ele, o BC deve aumentar o juro em 0,75 ponto em cada uma das três últimas decisões do ano - setembro, outubro e dezembro. Em relatório, ele sustenta a previsão ao lembrar que a expectativa para o IPCA em 2009 está em 5% e em alta.
A LCA Consultores acredita em alta de 0,75 ponto em setembro e em 0,50 ponto em outubro e dezembro. Para o economista Francisco Pessoa Faria, esse aumento adicional de 1,75 ponto até dezembro será suficiente para levar o IPCA para 4,6% em 2009. ¿O preço será a desaceleração da economia, que deve crescer em torno de 3,3% em 2009.¿
MUDANÇA DE TOM
COMO ERA (ATA DE JUNHO)
"A política monetária deve atuar por meio do ajuste da taxa básica de juros"
"Uma atuação cautelosa e tempestiva tem sido fundamental para aumentar a probabilidade de que a inflação no Brasil siga evoluindo segundo a trajetória de metas"
"A persistência de descompasso entre a demanda e oferta tende a exacerbar o risco para a dinâmica inflacionária"
"O Copom considera que se mantém elevada a probabilidade de que pressões inicialmente localizadas venham a apresentar riscos para a trajetória da inflação"
"A contribuição do setor externo para um cenário inflacionário benigno parece estar se tornando menos efetiva"
COMO FICOU (ATA DE JULHO)
¿A política monetária deve atuar vigorosamente, enquanto o balanço dos riscos para a dinâmica inflacionária assim o requerer, por meio do ajuste da taxa básica de juros"
"Uma atuação cautelosa e tempestiva tem sido fundamental para aumentar a probabilidade de que a inflação no Brasil volte a evoluir segundo a trajetória de metas"
"A persistência de descompasso entre a demanda e oferta vem exacerbando o risco para a dinâmica inflacionária"
"O Copom considera que se elevou a probabilidade de que pressões inicialmente localizadas venham a apresentar riscos para a trajetória da inflação"
"A contribuição do setor externo para um cenário inflacionário favorável tornou-se menos efetiva"