Título: Falta de consenso sobre votação amplia cisão na OEA
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/11/2009, Internacional, p. A14

EUA reafirmam apoio à eleição; recuo de Colômbia e Peru sobre declaração do Grupo do Rio irrita Brasil

A divisão entre os países da Organização dos Estados Americanos (OEA) aprofundou-se ontem, com a falta de consenso sobre a legitimidade das eleições em Honduras. O novo secretário-assistente de Estado para o Hemisfério Ocidental dos EUA, Arturo Valenzuela, reafirmou o apoio de seu país às eleições numa reunião da OEA.

"Essas eleições não foram inventadas pelo regime de facto em busca de uma estratégia de saída ou para encobrir um golpe de Estado. Pelo contrário, são eleições que respeitam o mandato constitucional de renovação do Congresso e da presidência e permitem ao povo hondurenho exercer sua vontade soberana", disse Valenzuela.

Os EUA estão pressionando vários países a reconhecer as eleições de domingo, o que abriria o caminho para a readmissão de Honduras na OEA. Panamá, Canadá, Peru e Colômbia devem reconhecer a votação.

IRRITAÇÃO BRASILEIRA

A posição do Peru e da Colômbia irritou o Brasil. Os dois países firmaram a declaração do Grupo do Rio no dia 5, em que diziam não aceitar as eleições hondurenhas sem o retorno do presidente deposto Manuel Zelaya. "Isso mostra como eles são incoerentes e permeáveis às pressões externas", disse um diplomata brasileiro.

A grande incógnita é a posição do México. "Se o México reconhecer as eleições, apesar de sua chanceler (Patricia Espinosa) ser de esquerda, teremos uma grande divisão na região - de um lado Alba (Aliança Bolivariana para as Américas) e Brasil; de outro, EUA, Colômbia, Peru, Canadá e México", disse ao Estado uma fonte do Congresso dos EUA.

A OEA convocou uma assembleia extraordinária para o dia 4. Nela, a organização se posicionará sobre uma decisão que o Congresso hondurenho deve tomar no dia 2 - se e quando Zelaya será restituído ao poder.

Ontem, Valenzuela enfatizou que os EUA querem que as eleições ocorram paralelamente à formação do governo de união e da comissão verificadora - prevista no Acordo San José-Tegucigalpa. Valenzuela também disse que o afastamento temporário do líder do governo de facto, Roberto Micheletti, da presidência é bem-vindo, pois "abre espaço para concessões".

ODORICO PARAGUASSU

Representantes brasileiros voltaram a dizer ontem que consideram esse afastamento uma "fraude". O embaixador brasileiro na OEA, Ruy Casaes, comparou Micheletti ao personagem Odorico Paraguassu de O Bem-Amado, novela de Dias Gomes, e ao personagem Alberto, interpretado por Alberto Sordi, no filme Os boas-vidas, de Federico Fellini. "Não há condições para que haja reconhecimento das eleições", disse Casaes.