Título: Mantega diz que não há razão para alta do juro
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/01/2010, Economia, p. B4

Para ministro, projeções refletem desejo de que os juros aumentem

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem em Davos que não vê razão para aumento da taxa básica de juros em 2010. Para Mantega, os analistas de mercado, que na quase totalidade projetam alta da Selic neste ano, agem em razão do desejo de aumento dos juros.

"Se você observar, esses prognósticos advêm daqueles que tirarão proveito da elevação da Selic, que é o próprio mercado financeiro", comentou o ministro da Fazenda, em entrevista coletiva no Fórum Econômico Mundial. Segundo Mantega, o atual ritmo de crescimento da economia brasileira é sustentável e não causa desequilíbrio monetário.

Ele acrescentou que a Fazenda fiscaliza os preços e verifica que há apenas elevações sazonais, como a da alface, por causa das chuvas, ou das mensalidades escolares, que têm aumento no início do ano.

Mantega frisou também que algumas projeções do mercado de crescimento da economia em 2010, de 6% a 6,5%, são "otimistas demais", comparadas ao seus prognósticos, de 5% a 5,5%. Segundo ele, não haverá o aquecimento que poderia causar pressão inflacionária.

Quanto à possibilidade de que o Copom, do Banco Central (BC), eleve a taxa Selic em 2010, Mantega disse que "ficaria frio". "Acredito que o Copom só elevaria se houvesse necessidade, se houvesse violação das metas de inflação." Ele acrescentou que não vê "rugas de preocupação na testa do Meirelles".

Henrique Meirelles, presidente do BC, demonstrou atitude mais cautelosa quanto à alta dos juros este ano. Para Meirelles, "não está clara a necessidade de freio, o que está clara é a necessidade de desacelerar". Ele frisou, porém, que não estava falando sobre possíveis mudanças na Selic e que é prematura qualquer conclusão.

Segundo Meirelles, essa é uma discussão do mercado, na qual existe a visão preponderante de que os juros reais não precisarão chegar acima da "taxa neutra" (que não acelera nem freia a economia). Para ele, a alta dos juros reais além do nível real é que caracterizaria o "freio".

Ele reforçou a visão de Mantega, de que a fase de estímulos à economia, em razão da crise, já passou. "Concordo integralmente com o que disse o ministro Mantega. O Brasil de fato já está num período de retirada de estímulo."