Título: Calouro é obrigado a tomar álcool combustível em trote
Autor: Siqueira, Chico
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/02/2010, Viida&, p. A15

Polícia de Fernandópolis investigará caso; universidade abriu sindicância

Pelo menos três calouros do curso de Medicina Veterinária da Universidade Castelo Branco, em Fernandópolis, a 553 quilômetros de São Paulo, foram agredidos e humilhados por veteranos em trote violento, na noite de segunda-feira. Eles disseram ter sido forçados a beber álcool combustível. O caso veio à tona quando a família do estudante J.G.B., de 18 anos, denunciou as agressões à polícia. O jovem levou tapas no rosto quando se recusava a cumprir ordens de colegas do quinto ano.

O reitor da Unicastelo, Gilberto Luiz Moraes Selber, afirmou que a universidade repudia o trote violento. Segundo ele, a instituição formou uma comissão de sindicância que tem prazo de 15 dias para apresentar relatório. "Os estudantes responsáveis poderão pegar punição de uma simples advertência até a expulsão."

Ontem, os estudantes - duas moças e J.G.B. - disseram, em depoimento na Delegacia de Investigações Gerais (DIG), que foram forçados a beber etanol e outras bebidas, tiveram as roupas rasgadas e cuecas e calcinhas arrancadas. Eles também teriam sido forçados a fumar maços de cigarros e tiveram veneno para carrapato aplicados em seus corpos. Depois, foram levados para sessões de humilhações nas avenidas da cidade. "É possível que haja mais vítimas. Os estudantes foram retirados das salas de aulas e levados de carros para repúblicas, onde foram submetidos a humilhações", disse o delegado Gerson Piva.

Ele afirmou que pretende localizar hoje os responsáveis pelos trotes. Os acusados podem responder por crimes de constrangimento ilegal e injúria grave (que inclui lesões corporais), cujas penas variam de três meses a um ano de prisão.

OUTROS CASOS

As instituições onde ocorreram casos de trotes violentos no ano passado tornaram mais rígidos os esquemas de recepção dos calouros. Na Fundação Municipal de Educação e Cultura de Santa Fé do Sul (Funec), no interior de São Paulo, a acusada de agressão Layanne da Silva foi expulsa e a faculdade promoveu uma campanha de conscientização.

Na Unitau, nove veteranos de Medicina receberam suspensão de 60 dias depois que 53 calouros denunciaram abusos. Em dezembro, a Unitau aprovou a suspensão do trote dentro e fora do câmpus.

Dos estudantes que agrediram Bruno Ferreira, no Centro Universitário Anhanguera Educacional de Leme, dois foram expulsos e sete, suspensos. Ferreira relatou ter sido ferido com um chicote e obrigado a se jogar em uma lona com excrementos de animais. Na UEL, os processos contra estudantes de Agronomia, Direito e Relações Públicas ainda estão em andamento. Segundo relatos, calouros foram pisoteados e atacados com tinta, ovos e lama.