Título: Einstein e Sírio investem em expansão e na concorrência
Autor: Leite, Fabiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/06/2010, Vida, p. A26

Com o empreendedorismo que marca suas comunidades em São Paulo, os dois maiores hospitais privados de excelência do País se preparam para abrir simultaneamente novas unidades na zona oeste e consolidam tendência de oferecer tratamento diferenciado

Nos últimos anos eles disputaram tudo: grandes nomes da medicina, equipamentos de ponta, celebridades e políticos na saúde e na doença. E não é diferente na hora da expansão. Os dois maiores hospitais privados de excelência do País, o Israelita Albert Einstein e o Sírio-Libanês, que juntos somam R$ 1,6 bilhão em receitas - o mesmo que o Ministério da Saúde investiu de janeiro a setembro em 2009 - e simbolizam duas das comunidades mais empreendedoras de São Paulo, prometem entregar quase ao mesmo tempo, no segundo semestre deste ano, novas unidades-satélite na capital.

A ideia por trás do crescimento é a mesma: driblar a superlotação e ter espaço para tudo que não precisa ser feito em uma grande unidade, de pequenas cirurgias a tratamentos como quimioterapia. E diminuir custos e melhorar o atendimento.

A região escolhida para as novas frentes de expansão também coincide, a zona oeste - Perdizes, no caso do Einstein, e Itaim Bibi, no do Sírio -, considerada estratégica porque lá vive boa parte dos seus clientes-pacientes, aqueles com seguros-saúde diferenciados de grandes empresas que cobrem seus procedimentos também diferenciados.

"A nova unidade foca a baixa complexidade e o pronto-socorro. O paciente não vai ter de ficar se movendo pela cidade. Vamos tirar de dentro do hospital o que pode ser feito fora do hospital. Baratear sem perder a qualidade", afirma o superintendente do Albert Einstein, o oftalmologista Claudio Lottenberg.

Na esquina da Rua Apiacás com a Avenida Sumaré, ergue-se um vistoso prédio espelhado, do Einstein. Até a antiga churrascaria ao lado decidiu se repaginar, mas o estabelecimento jura que a reforma não teve a ver com a chegada do vizinho ilustre. A ideia é que só casos graves sejam levados, de helicóptero, para sede do hospital, no Morumbi, diz Lottenberg.

Qualidade. O concorrente também se mexeu. "Temos a expansão de alguns serviços que superam nossa capacidade de atendimento", diz o cirurgião Paulo Chapchap, superintendente do Sírio. A solução, um projeto arquitetônico mais modesto que o do Einstein, foi crescer da Bela Vista, na região central, sua sede, para o Itaim Bibi, onde o hospital ocupará oito andares de um novo centro médico, com ambulatórios, hospital-dia, centro diagnóstico e de oncologia, que hoje é seu carro-chefe.

"São hospitais que investiram fortemente em qualidade assistencial, gestão, acreditação (aprovação de processos por avaliadores independentes)", diz Henrique Salvador, presidente da Associação Nacional de Hospitais Privados. Ele avalia que o setor se beneficia da recente expansão dos planos privados de saúde, que cresceram 5% em 2009. "Além disso, são hospitais com um público próprio, uma clientela que busca essa excelência."

Pesquisa. Os dois hospitais são unidades privadas filantrópicas, que surgiram para amparar duas comunidades de imigrantes que vivem uma eterna rivalidade e que investiram em alta complexidade e em institutos de ensino e pesquisa. Nos últimos anos, aproximaram-se cada vez mais do Sistema Único de Saúde (SUS), estatal, assumindo parcerias de gestão de serviços e unidades públicas.

Em comum, os dois hospitais apresentam ainda o fato de terem na cúpula dois ex-secretários da Saúde da Prefeitura de São Paulo - Gonzalo Vecina, no Sírio, que trabalhou na gestão Marta Suplicy (PT), mas também tem bom trânsito no PSDB; e o próprio Lottenberg, no Einstein, que atuou na gestão do tucano José Serra, mas hoje mantém em sua sala a foto do ex-governador ao lado da fotografia de Dilma Rousseff (PT).

Após recente mudança na legislação de filantropia, Sírio e Einstein ganharam nova missão e o selo "excelência" do Ministério da Saúde, o que causou controvérsia no setor filantrópico (mais informações nesta página).

Criado em 1921, o Sírio é o mais antigo e se destaca principalmente na oncologia e na cardiologia. O Einstein, fundado em 1970, é considerado por médicos, segundo o instituto de pesquisa Datafolha, o melhor hospital , e se destaca em áreas como neurologia e transplantes.

Mercado. O movimento gera expectativa também na indústria de equipamentos médicos e hospitalares. Só no Einstein serão mais 20 mil m² de área útil na nova unidade-satélite. No Sírio, 4,3 mil m². A cúpula dos dois concorrentes prometeu valorizar o parque nacional nas expansões.

"Com certeza eles têm um papel importante na incorporação de tecnologias, são a régua que puxa o mercado. Apesar de ser saúde, de serem filantropia, isso também é um negócio", afirma Franco Pallamolla, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos.

No horizonte dos dois hospitais ainda estão previstos aumento das sedes e expansão para unidades fora de São Paulo. O Sírio promete um hospital completo em Campinas, com investimentos de grupos da região, e em Brasília, onde pretende oferecer uma unidade de tratamento contra o câncer. O Einstein estuda desembarcar no Rio de Janeiro, também com investimentos externos.