Título: Pré-sal e mineração são projetos mais atraentes
Autor: Trevisan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/08/2010, Economia, p. B10/11

Com o aumento dos recursos chineses, fala-se até da abertura de capital de grupos brasileiros em Hong Kong

A sobra de dólares na China é motivo de empolgação entre os brasileiros a ponto de dois grupos com investimentos em mineração - um de Minas Gerais e outro localizado no Pará - estarem se estruturando para fazer um IPO, sigla para oferta inicial de ações, em Hong Kong. Os detalhes das negociações ainda são tratados com reserva, explica o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China (CCIBC), Charles Tang.

Segundo Tang, de janeiro até agora foram anunciados por volta de US$ 20 bilhões de investimentos em projetos, diluídos pelos próximos anos. O cálculo do representante da CCIBC considera os US$ 10 bilhões de empréstimo que a Petrobrás fechou com o Banco de Desenvolvimento da China (BDC), acertado em junho passado. E, pelas suas contas, os aportes anunciados podem chegar a US$ 25 bilhões até o fim do ano.

Até agora os negócios de siderurgia e mineração são os que mais atraem capital chinês. Sozinha, a estatal Wuhan Iron Steel (Wisco) anunciou neste ano US$ 11 bilhões em projetos em Minas Gerais e Rio de Janeiro, em parceria com o empresário Eike Batista. Boa parte do dinheiro vai para o projeto siderúrgico no Porto do Açu, no litoral fluminense.

Rodrigo Maciel, sócio da consultoria Strategus, tornou-se uma espécie de referência para os chineses que miram ativos brasileiros. No momento, seu escritório tem mandato para cinco negociações - três de grupos chineses e dois de brasileiros. "Os investidores estão olhando para o que vem por aí. Sabem, por exemplo, da necessidade de trazer tecnologia e equipamentos para a exploração de petróleo e construção civil", explica. Outro setor aquecido é o de energia. Em maio, as empresas espanholas Elecnor, Isolux e Cobra venderam o controle de sete empresas de transmissão de energia da Plena Transmissoras no Brasil para a State Grid Corporation of China por US$ 1,7 bilhão.

Petróleo. A cobiça pelo pré-sal brasileiro, no entanto, parece ser o principal combustível chinês, como se viu com o movimento da Sinochem em direção a norueguesa Statoil. Em maio, a estatal comprou 40% de participação no campo de petróleo de Peregrino, na Bacia de Campos, por US$ 3 bilhões.

O valor passou longe dos US$ 10 bilhões emprestados à Petrobrás pelo BDC, que exigiu como garantia 200 mil barris/dia de petróleo por 10 anos. Em 2009, o banco chinês assinou um empréstimo também de US$ 10 bilhões à estatal brasileira.

A corrida em direção ao Brasil, diz Tang, é uma forma de o país ter o maior número possível de ativos estratégicos que garantam suprimentos. Daí os primeiros movimentos dos investidores da China também na área agropecuária.

O grupo BBCA avalia a parceria com uma usina sucroalcooleira em Mato Grosso do Sul para produzir ácido cítrico. Outra empresa está interessada no mercado de carne processada no Estado. Uma terceira companhia negocia com um grupo de usineiros do Centro-Oeste a produção de celulose a partir do bagaço da cana. Como estão em negociação, os nomes não foram revelados.

Na Bahia. Um dos Estados mais ativos nas negociações com os asiáticos é a Bahia, que tem recebido chineses interessados em conhecer a produção agrícola, pesqueira e energética. O grupo Pallas International Consultants assinou há três meses protocolo de intenções com o governo estadual com a promessa de investir em energias renováveis, como biodiesel, solar, eólica e biomassa.

A Sun-Daity Shandong Shengdetai Food Co. enviou representantes à região do Vale do São Francisco para conhecer o plantio de frutas irrigadas e estudar a instalação de uma unidade de processamento em Juazeiro.

Para o embaixador Sergio Amaral, presidente do Conselho Empresarial Brasil-China, a boa fase não deve ser motivo para o governo brasileiro abrir mão de negociações mais firmes. "É preciso clareza para saber se o mais importante é que prevaleça a lógica de mercado ou a lógica do governo. Isso precisa ser bem avaliado", diz.